Apesar da acesa polémica que antecipou a partida do contingente da GNR para o Iraque, os militares cumpriram uma missão de alto risco sem baixas. O sucesso da operação calou críticas à falta de preparação deste grupo da elite da guarda.
O timing da partida do primeiro contingente da GNR para o Iraque, numa estreia absoluta desta força de segurança para uma missão em teatro de pós-guerra, não podia ter sido pior. No dia da viagem, a 12 de Novembro de 2003, os telejornais abriram com a notícia de um violento atentado terrorista no quartel em Nassíria, precisamente onde os portugueses iriam ficar instalados juntamente com os carabinieri italianos.
Depois de terem passado quase quatro meses em treino intensivo, debaixo de uma forte contestação, quer da parte dos partidos de oposição ao Governo da altura, liderado por Durão Barroso, quer das altas patentes militares que entendiam que a GNR não tinha preparação para aquele cenário, os 132 militares também iam embarcar para um local pintado de sangue. A explosão de duas viaturas armadilhadas que conseguiram passar os portões de segurança matou meia centena de pessoas, 19 das quais militares italianos.
É este momento, o da partida, com esta sombra sangrenta, que de imediato vem à memória de três oficiais da GNR que estavam neste grupo, quando lhes pedimos para recordar esta missão. "As lágrimas que corriam na cara dos meus pais, que tinham visto as notícias do atentado, na despedida, foi muito duro, o mais duro", lembra Gonçalo Carvalho, o homem das informações e das operações especiais da missão.
Miguel Barreto, que foi o segundo-comandante deste contingente, concorda, mas assinala que, quando foi para o quartel da GNR a pensar que efeito iam ter as notícias nos seus homens, os encontrou "a todos ainda mais determinados em seguir viagem. Ninguém hesitou".
Marco Cruz, na altura com apenas 26 anos, foi comandar um pelotão de ordem pública e fez a primeira patrulha dos portugueses na cidade, à noite. "Ver muita gente nas ruas com armas, não fardada, a destruição da cidade, ouvir cânticos religiosos que eram entoados" foram as primeiras imagens a ficar gravadas para sempre.
Na primeira busca a uma residência que fez, Gonçalo Carvalho lembra-se dos minutos antes, de ter pensado no que podia acontecer, pois havia informação de suspeitos armados. O que viria a provar-se verdadeiro, mais tarde, com a confirmação da presença de armas e da sua ligação a um grupo terrorista.
Miguel Barreto entendia na altura, e mantém ainda agora, que "a GNR deu provas da sua competência para intervir nestes cenários, onde já não há guerra, mas a ordem pública ainda não está restabelecida". "Não fomos lá combater, mas estávamos preparados para nos defendermos se fosse preciso", acrescenta.
A empatia que os portugueses acabaram por criar com a população afegã foi elogiada ao mais alto nível. Uma conselheira política do Ministério da Defesa britânico, Jane Marriot, confirmou que "nos contactos com as associações locais e com os partidos" ouviram " sempre alguma queixa em relação a alguns contingentes. Todos menos os portugueses". Cerca de 2500 polícias iraquianos receberam formação da GNR. O sucesso da missão portuguesa foi tal que a GNR tem sido chamada para colaborar na doutrina da ONU. A experiência destes três oficiais foi determinante para estarem hoje a comandar a preparação de militares para missões internacionais.(D.N)
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ResponderEliminarBlogue Oficial do Livro "Um Oficial da GNR no Iraque", O relato na primeira pessoa do 2ºComandante da primeira missão da GNR no mais perigoso cenário do após Guerra do Ultramar. " A história é uma galeria de quadros onde há poucos originais e muitas cópias" Alexis Tocqueville. O Primeiro contingente da GNR no Iraque (Subagrupamento Alfa) foi definitivamente um original