13 de dezembro de 2010

Armada "deve fazer o luto" pela perda do seu hospital

Exército e Força Aérea desvalorizam crítica da Marinha ao facto de os novos serviços comuns ainda não terem regulamentos.

Os três ramos das Forças Armadas discordam da velocidade a que deve avançar a reforma da saúde militar e de algumas das soluções, mas as reservas da Marinha estão a deixá-la isolada face ao Exército e à Força Aérea.

"A Armada tem de fazer o luto pela perda de Santa Clara", declarou ao DN uma alta patente, sob anonimato por não estar autorizada a falar e por se pronunciar sobre a 'casa' de terceiros. Mesmo o centro de medicina subaquática e hiperbárica da Marinha "é um meio de prestar tratamentos, que não precisa de ter quadros muito diferenciados lá colocados", adiantou a citada fonte, embora reconhecendo a sua especificidade a nível operacional.

Dizendo compreender as reservas da Marinha - visíveis, por exemplo, no facto de ainda não ter enviado quase nenhum dos seus médicos para os hospitais da Estrela (Exército) e do Lumiar (Força Aérea) - "no tempo" do anterior comandante, almirante Melo Gomes (porque estava a terminar o seu mandato), os outros dois ramos consideram que agora, com um novo chefe, essa atitude "começa a ser indefensável [e] é insustentável".

A par da extinção do hospital de Santa Clara (apesar de essa estrutura "dar lucro"), a Marinha rejeita uma reforma onde se sente "canibalizada pelo Exército" (leia-se ir preencher as lacunas da Estrela com os seus recursos humanos e materiais) - percepção que é partilhada pela Força Aérea: "Não estamos disponíveis para ser canibalizados."

Fontes da Armada apontam ainda a proposta de os futuros departamentos tutelarem especialidades sedeadas em locais diferentes ou, ainda, o facto de os serviços hospitalares comuns já criados (em Setembro e Novembro) ainda não terem regulamentos próprios.

"Nunca pensei assistir a uma coisas dessas. Não há regulamentação [quem chefia, como funciona um serviço], é o arbítrio", criticou um oficial médico da Armada, alertando para outra questão: O que acontecerá "quando houver casos graves [de erros clínicos] e for invocada a responsabilidade civil" pelos actos em causa?

Um responsável do Exército desvaloriza essa situação. "Existem serviços conjuntos há muitos anos, que têm regulamentos. Há normas, as pessoas não estão desenquadradas" e, portanto, é possível extrapolar essa regulamentação para ultrapassar o problema.

Uma fonte da Força Aérea, subscrevendo aquela posição do Exército, apontou ainda exemplos negativos que decorrem da atitude da Armada: "Estávamos à espera que a Marinha assumisse a chefia da dermatologia [e]esperávamos dar a direcção do serviço de 'otorrino' ao Exército ou à Marinha", mas isso é impossível enquanto os médicos navais não se apresentarem.

O anterior chefe da Armada, almirante Melo Gomes, repetiu ao DN que "a Marinha está com a reforma, se for para um edifício único". "Queremos saber qual é o [modelo final] do programa funcional do hospital, pois não podemos ter hospitais bipolares, como sempre disse", frisou. "Ou um hospital único nas instalações com melhores condições [leia-se Lumiar] ou então umas novas, em partilha com o Serviço Nacional de Saúde", adiantou Melo Gomes. (DN)

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