21 de fevereiro de 2011

Força Aérea vai retirar portugueses da Líbia

O Governo colocou em marcha o plano de contingência e enviou um C-130 para retirar os portugueses da Líbia. O avião está já a caminho e deve aterrar em Tripoli dentro de "três ou quatro horas", indicou o secretário de Estado António Braga. O avião da Força Aérea deverá evacuar do país cidadãos de outros países da União Europeia, mas a preocupação do MNE Luís Amado vai para problemas logísticos na retirada de Benghazi, segunda cidade líbia.

"A operação de repatriamento está a ser desenvolvida na Líbia. Dadas as dificuldades dos voos comerciais em fazerem o repatriamento, o Governo disponibilizou um C-130 que dentro de três ou quatro horas está em Tripoli", precisou António Braga, acrescentando que o avião da Força Aérea Portuguesa também vai retirar do país cidadãos de outros países da União Europeia.A operação está a ser "coordenada pela embaixada de Portugal na Líbia por instruções do Ministério dos Negócios Estrangeiros"

De acordo com o governante, "há famílias que já saíram em voos normais", mas “para hoje já estão esgotados os voos (para Lisboa), daí esta necessidade do Governo" de disponibilizar mais meios para a evacuação.

A partir de Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros explicou que Portugal já desde ontem tinha “um avião na região", havendo ainda "uma operação com um avião civil que está preparada" também desde domingo tendo em vista o repatriamento de cidadãos portugueses.

Revelando “dificuldades operacionais no aeroporto de Benghazi", Luís Amado indicou que "os portugueses têm vindo a sair progressivamente" da Líbia.

O MNE assinalou contudo problemas com “um conjunto de portugueses que está em Benghazi, cerca de 50 que trabalham para uma empresa brasileira, e que neste momento estão à espera" da evacuação.

Na região leste da Líbia, onde se situa Benghazi, "há dificuldades operacionais" para retirar os europeus que pretendem sair do país e "é precisamente para fazer face a essas dificuldades operacionais que os representantes da UE estão a trabalhar”, acrescentou.

"Nós estamos muito preocupados com o que se passa. Neste momento está em curso uma reunião dos embaixadores da UE (em Tripoli) que visa coordenar as ações, os recursos, a logística necessários para que os cidadãos da UE que queiram abandonar a Líbia possam fazê-lo", revelou Amado.

Os cidadãos nacionais que vivem na Líbia aguardavam desde ontem por uma solução para sair do país. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, já havia dado garantias de que o Governo tinha salvaguardado um plano de resgate, à semelhança do que aconteceu na Tunísia e no Egito.

A UE indicou a meio da manhã que está a ultimar planos de evacuação para retirar os seus cidadãos de Benghazi, cidade onde se concentram as maiores manifestações contra o regime de Khadafi.

A informação foi avançada pela chefe da diplomacia espanhola, Trinidad Jiménez, em Bruxelas, no início de uma reunião da diplomacia europeia que deverá produzir um comunicado a condenar a repressão contra os manifestantes na Líbia.

Também as petrolíferas britânica BP e a norueguesa Statoil fizeram já saber que se preparam para retirar do país parte dos seus funcionários.A BP chegou em 2007 a acordo com o regime líbio para explorar cinco poços no Golfo de Sirte; a petrolífera britânica tem no país um total de 140 funcionários

Um porta-voz da BP declarou à agência France Press que estavam "a seguir a situação e a fazer preparativos para retirar algumas das famílias e algum pessoal não-essencial nos próximos dois dias".

A Statoil iniciou igualmente os preparativos para retirar da Líbia famílias expatriadas e funcionários não-essenciais: "A nossa sede local (em Tripoli) está fechada. O punhado de funcionários estrangeiros já deixou o país ou está em vias de o fazer”, indicou à AFP Baard Glad Pedersen, porta-voz do grupo.

Os 56 portugueses que vivem em Benghazi foram apanhados na onda de violência, com alguns a serem vítimas de assaltos, tendo passado a noite na casa de outros cidadãos nacionais. Várias cidades líbias, entre as quais Benghazi e Syrte, são agora controladas pelos opositores do regime; em Benghazi os populares estão a ser apoiados por soldados que desertaram e confrontaram as forças leais ao presidente Muammar Kadhafi

Ontem, o Governo reiterava os avisos para que os portugueses que vivem nos países árabes em convulsão tenham "cuidado".

Lisboa lembrou a estes cidadãos nacionais que se for necessário serão postos em prática "planos de contingência".

"Todos os cenários estão a ser acompanhados e aconselham-se os portugueses a manter os cuidados próprios nestas circunstâncias", declarou à Agência Lusa o secretário de Estado das Comunidades, António Braga, deixando a garantia de que, "em caso de necessidade, Portugal tem condições para aplicar planos de contingência".De acordo com o gabinete de António Braga há cerca de dois mil portugueses na região: 200 na Líbia (90% na capital, Tripoli), 700 em Marrocos, 600 na Argélia, 70 no Bahrein, 50 no Líbano, 330 nos Emirados Árabes Unidos, 20 na Jordânia e seis na Síria)

António Braga respondia a uma pergunta sobre se o Governo tinha previsto um plano de retirada de portugueses à semelhança do que foi feito no Egito, no início do mês, quando dois aviões C-130 viajaram para o Cairo para ir buscar 51 cidadãos nacionais.

Luís Amado disse entretanto que vê com preocupação o que se está a passar na Líbia. O ministro dos Negócios Estrangeiros acrescentou que a crise que atravessa nestas semanas o norte de África e os países árabes vai obrigar a Europa a ter mais atenção ao que se passa nas fronteiras a sul.

Lembrando que já em 2007, durante a presidência da União Europeia, Portugal tentara "imprimir uma sensibilidade própria para os problemas que se desenvolvem em toda esta fronteira mediterrânica e oriental da União", Luís Amado considerou que a UE descurou durante muitos anos a relação de vizinhança com o Mediterrâneo.

Mais do que nunca, sustentou o MNE português, é agora tempo de dar atenção aos problemas desta fronteira e ter "uma visão estratégica sobre a relação com toda esta região de vizinhança".

"Face à pressão destes acontecimentos, mais do que nunca nós temos que dar atenção aos problemas de longo prazo com que seremos confrontados", declarou Amado à entrada para um jantar informal de chefes de diplomacia da UE, em Bruxelas, cuja agenda rondou as revoluções e os protestos no mundo árabe. (RTP)

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