Para todas as pessoas das Forças Armadas e das Forças de Segurança os votos felizes de Natal e Novo Ano, no respeito pelas razões de cada um!
O ar festivo desta quadra é sinal de convicções cristãs e dos motivos de quem partilha, connosco, as causas da Humanidade. A defesa dos princípios que regem a dignidade da pessoa compromete-nos no exercício de comportamentos limpos, sem conveniências nem interesses.
Os mais importantes deverão ser os que, no dia a dia, menos importam e por quem quase ninguém se importa. Uma sociedade será sempre julgada pelos valores da justiça e da solidariedade, ao conferir aos mais abandonados o primado dos cuidados e do orçamento, construindo um desenvolvimento de cariz humano. A opção preferencial pelos mais vulneráveis nunca se poderá compadecer com apoios meramente circunstanciais, ao recusar limites à imaginação fraterna e ao exercício da inter-ajuda.
A esta luz “a crise não pode servir de pretexto para a suspensão dos três critérios fundamentais que deverão orientar a construção do futuro: a justiça, a solidariedade e o bem comum” (Comissão Nacional Justiça e Paz, Vencer a crise e construir Portugal (…), Lisboa, 2011).
Uma inovadora perspectiva da acção e da competência de pessoas, torna efectivo o improvável, estimulando-nos a viver a esperança, nunca como uma ilusão. A esperança é a arte, a honestidade e a coragem do possível, cumprindo, entre várias, a certeza de que a Terra é de todos e de que cada um tem jus ao trabalho, à estabilidade da família, à qualificação de um serviço profissional, ao respeito e à paz.
Conforme o Concílio Vaticano II: “Cumpram-se, antes de mais, as exigências da justiça para que se não ofereça como solidariedade o que é devido a título de justiça” (Decreto sobre o apostolado dos leigos, n.º 8).
No tocante às condições de vida nas Forças Armadas e nas Forças de Segurança, reconheçam-se as luzes do que tem sido efectivado de positivo e sério. Mas quem defende o progresso e os critérios da promoção humana tem a missão de atender muito mais à inquietação do vazio do que ao encantamento do conseguido. Neste domínio, a competência do pensar e do proceder, se aponta obstáculos, é porque está certa de que os erros são para corrigir e as expectativas verdadeiras para realizar.
Respeitem-se os objectivos sempre sublinhados: estabelecer a ordem justa, defender o direito violado, realizar obras de paz em ordem ao bem comum. Na linha do pensamento social da Igreja, os frutos do trabalho comum devem ser divididos com equidade e justiça social; também nunca se respirará a tranquilidade enquanto não se experimentar que se é sujeito e não objecto da vida económica, social e política. Tenha-se recato em aludir ao viver acima das possibilidades. Há um mundo de portuguesas e portugueses que nunca as tiveram!
A fraude da cidade burguesa consistiu em não mostrar os pobres (Andrea Riccardi). Aqui e acolá, há pretensões desta ordem. Mas o Natal não vive esse pudor terrível! Um Menino pobre nasceu e apareceu no mundo. Uma cara de criança era a de um Deus connosco, propondo-nos o fascínio de sermos humanos, sem fronteiras. Ele nos ensinou a nunca ser natural a existência e fatal o crescimento, em número, dos excluídos. Foi por este problema e suas angústias, que citei, no “Dia dos Fiéis Defuntos” último, a letra de um fado bem nosso conhecido: “Ó gente da minha terra / Agora é que eu percebi / Esta tristeza que trago / foi de vós que a recebi”.
Um Natal de verdade em 2011!
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
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