19 de julho de 2013

Força Aérea e Marinha com "espírito Blade", em treinos conjuntos de helicóptero

O helicóptero é enorme, impõe respeito mesmo parado e as primeiras instruções aos jornalistas são claras: "Vocês não repetem este atraso de 40 segundos. Fazem o que eu disser, quando eu disser, ou ficam em terra e não voltam a voar".

Na pista, liga-se o motor do EH-101 Merlin, o ar que daí se liberta quase queima a pele e só os civis parecem notar o excesso de temperatura, já que, em fila para entrar nesse "autocarro", há 15 homens tranquilos do Destacamento de Operações Especiais da Marinha Portuguesa - cada um deles com 10 a 20 quilos de equipamento às costas, como se nada fosse.

Camuflados na sombra proporcionada pela mata da Base de Manobra N.º 1 de Maceda, outros militares esperam a sua vez para entrar na aeronave que os leigos só conhecem dos filmes de guerra. E é então que, às 15:00 exactas, começa mais um dos rigorosos treinos do Hot Blade 2013, o exercício multinacional de helicópteros que, organizado pela Força Aérea Portuguesa, recebe em Ovar, até 31 de Julho, cerca de 3300 militares de várias forças armadas da Europa.

No interior do EH-101  já no ar, fala-se sobretudo por gestos. As operações são dirigidas por quatro elementos da Força Aérea e esses comunicam entre si através do sistema áudio instalado nos capacetes, mas, para todos os outros passageiros, a conversa faz-se com gestos de mão e indicações de dedos.

Quando o helicóptero para a 15 metros de altitude sobre o asfalto da pista de aviação, dá-se a primeira ordem silenciosa: um a um, os militares soltam os cintos de segurança, descem das cadeiras para o chão e, aí sentados, arrastam-se até à porta lateral do EH-101, ficando com as pernas a baloiçar do lado de fora.

Depois os mesmos homens agarram-se a uma corda presa à nave, recorrem ao que o capitão Teixeira já definira no briefing como a técnica de Fast Roping e descem pelas suas mãos até ao solo, perante quatro helicópteros Agusta A109 que, no ar, esperam em fila por passagem - porque "não é por um helicóptero poder levantar a direito, para cima, que não segue as regras da estrada", brinca um militar.

Pela porta sempre aberta do EH-101 passa a circular um ar mais fresco, o que revela a mudança de trajecto rumo ao mar alto. A paisagem faz-se apenas de céu e água, e, quando o helicóptero se inclina lateralmente para virar de direcção, a porta fica uns momentos a pairar de frente sobre a superfície das ondas. A voar de lado, o que se vê pela abertura é uma parede de água e bastaria soltar-se um cinto para se cair e bater contra ela. Os civis a bordo riem-se. O risco não impede que essa seja a melhor sensação de todo o voo e percebe-se nessa altura de que fala o tenente-coronel Carlos Lourenço, da Força Aérea, quando refere o "espírito Blade".

Daí a pouco, os militares voltam a sentar-se no chão e preparam-se para o segundo teste do exercício: o helicóptero fica suspenso num determinado local, pelo cockpit percebe-se que está a pairar sobre um navio e mais homens voltam a descer pela corda até uma plataforma oscilante, que lhes dará acesso ao NRP Bérrio.

"E vocês não saltam?", pergunta-se aos últimos passageiros do EH-101  "Ficamos para a parte pior", responde um deles. Refere-se à terceira descida de corda, no areal de Maceda, onde a força das hélices levanta a areia e a faz subir para o helicóptero, com impulso suficiente para atravessar roupa, picar na pele, ferir os olhos.

Quando se repara, os últimos homens da Marinha já se dissimularam entre a vegetação e os troncos caídos da floresta de Maceda, cada vez mais abatida sobre a praia por força da erosão. No helicóptero já só há jornalistas, piloto e co-piloto, e, ainda a controlar a porta aberta, o operador de sistemas e o recuperador salvador - que respondem com acenos a quem os segue da praia do Furadouro, uns 60 metros abaixo.

Regressa-se à Base pela linha da costa, num helicóptero grande, largo, comprido e quase vazio. Os jornalistas são então despachados para a pista, com a euforia de quem brincou aos heróis e a frustração de quem não saltou. Ao lado já há outra fila de militares equipados a rigor para embarcarem e repetirem o exercício. De costas muito direitas, continuam serenos como os primeiros. "Isto não é p'ra meninos", parecem dizer. (JN)

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