O estatuto do novo bispo das Forças Armadas está em fase última de negociação entre a Nunciatura Apostólica, que representa o Vaticano, e o Governo português, através do Ministério da Defesa Nacional.
Quem o afirmou, em declarações ao PÚBLICO, foi Manuel Linda, o novo bispo das Forças Armadas e de Segurança, nomeado a 10 de Outubro pelo Papa Francisco e que tomou posse canónica na sexta-feira, 24 de Janeiro. Sucede a Januário Torgal Ferreira, mas não foi ainda integrado nas Forças Armadas, tal como decorre do cargo.
“Neste momento, o problema não é económico, mas quanto ao estatuto do bispo das Forças Armadas e de Segurança. A Santa Sé pediu que fosse nomeado um capelão-chefe para coordenar os outros capelães, cargo que esteve confiado ao padre Manuel Amorim”, disse Manuel Linda, ainda em funções de bispo auxiliar de Braga.
Como capelão-chefe, os serviços de Manuel Linda serão pagos pelo Ministério da Defesa. Um ponto que levou a negociações entre a Nunciatura e o executivo e que parecem ter agora chegado a bom porto. Contudo, nas declarações ao PÚBLICO, o bispo auxiliar de Braga desconhecia, ainda, a sua patente nas Forças Armadas e, daí, o salário que vai auferir.
“A partir do momento em que for capelão-chefe existe a equiparação a um posto militar, da Marinha ou da GNR, como aconteceu com o padre Manuel Amorim”, explicou Manuel Linda. Manuel Amorim, sacerdote da Igreja da Memória, na Ajuda, em Lisboa, foi equiparado a capitão-de-mar e guerra.
No entanto, quando Januário Torgal Ferreira, com a patente de major-general, passou à reforma aos 70 anos – embora o Vaticano o tenha mantido no cargo até aos 75 –, Manuel Amorim, vigário-geral do ordinariado castrense e adjunto da capelania-mor, na prática o “número dois” do bispo das Forças Armadas, subiu a contra-almirante, posto que abandonou em 31 de Dezembro passado.
Visado nega pressões
A nomeação de Manuel Linda criou uma situação ímpar: um futuro bispo castrense sem patente atribuída, cujo salário só agora foi assumido pelo Ministério da Defesa, e que teve de interromper o seu ministério na Arquidiocese de Braga. Aliás, colocou um problema naquela estrutura. “O ano pastoral já estava delineado até Agosto, porque a programação é sempre feita em Maio do ano anterior”, admite. Aliás, a sua agenda está completa até Junho. “Algumas coisas foram alteradas, outras não conseguimos, e vai ser feita uma redistribuição de trabalho”, reconhece.
Contundo, o novo bispo das Forças Armadas afirma desconhecer terem existido pressões do Governo junto da Santa Sé para substituir o seu antecessor. “D. Januário já tinha feito 75 anos, portanto tinha de se resignar. Se houve pressão foi na relação bilateral Estado a Estado, se é que a houve”, contrapõe. “O processo de substituição de D. Januário foi normal”, conclui.
Esta opinião é partilhada pelo anterior bispo castrense. “Não tenho conhecimento de pressões”, destacou, ao PÚBLICO, Januário Torgal Ferreira. “Não acredito que tenha havido pressões, porque então a minha crítica seria mais acérrima”, insiste.
“Nunca tive qualquer suspeita do poder político, mas sabia que a partir de uma determina altura as relações se agravariam quando disse que havia corruptos no Governo, que havia interesses”, afirma. “O ministro da Defesa respondeu publicamente, apelou a que apresentasse o caso à Procuradoria-Geral da República e convidou-me a decidir entre ser bispo ou comentador”, recorda.
Mas desdramatiza a situação: “Aliás, esperei quase seis meses até ser substituído depois de cumprir 75 anos.” E concluiu: “Nunca tive contactos pessoais com o ministro, nunca passei o meu tempo nos gabinetes dos príncipes.” (Fonte: Público)
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