Fernando Geraldes foi presidente da administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) entre Março de 2004 e 2007, passando por três governos e três ministros da Defesa, Paulo Portas, Luís Amado e Nuno Severiano Teixeira.
O ex-administrador considerou que «existia capacidade» para construir os Navios de Patrulha Oceânica (patrulhões) e considerou mesmo que «seria a única forma de tentar modernizar a empresa» incorporando tecnologia.
Fernando Geraldes afirmou que quando chegou à empresa encontrou «dificuldades de gestão de recursos humanos, de motivação, de controlo de custos» e «riscos contratuais» em algumas encomendas, que considerou «relevantes».
Como exemplo, Fernando Geraldes referiu que o contrato dos patrulhões tinha uma cláusula que estipulava que o ministério da Defesa «pagaria contra a apresentação de factura se assim o entender».
«Um clausulado absurdo. Se a empresa fez o trabalho e apresentou factura, o cliente tem de pagar e ponto final», afirmou o ex-administrador, na comissão de inquérito ao processo que levou à subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
O ex-administrador deixou fortes críticas à atitude da Marinha ao longo do processo de construção e de alterações sucessivas ao projecto, cujos custos «não foram incorporados» no preço, onerando a empresa.
«Alguém podia ter dado um murro na mesa. Não digo que os ministros que passaram pelas respectivas pastas o pudessem fazer. Agora, estar ver derrapar um processo destes e incorporar os prejuízos na empresa, não sei», disse.
O ex-administrador justificou que «era impossível resolver internamente» os problemas de sucessivas alterações ao projecto e exigências da Marinha e que teria sido preciso «que alguém dissesse alguma coisa ao Chefe do Estado-Maior da Armada».
Questionado pelo deputado do PS Rui Paulo Figueiredo, o ex-administrador ressalvou que considera ter havido «boa-fé de quem fez o contrato» mas considerou que a Marinha quis comprar «um Ferrari» pagando o preço de «um Fiat».
«Não se pode pedir por 20 mil euros um Ferrari», observou o ex-administrador, admitindo depois que o prejuízo da primeira embarcação «deveria ter sido mais amortizado».
O administrador admitiu que os trabalhadores da empresa «acreditaram muito» que o programa de encomendas da Marinha ia ser «uma alavanca», afirmando desconhecer a decisão do actual ministro da Defesa, Aguiar-Branco, de cancelar as restantes encomendas.
O ex-administrador deu como exemplo da «cultura da qualidade» dos Estaleiros que não era reflectida no preço, o processo de construção de um navio químico para um armador finlandês em 2004, contratado por 26 milhões de euros e que deu 20 milhões de euros de prejuízo devido a sucessivas tentativas para atingir o ponto de qualidade exigido.
Questionado sobre a relação com as outras direcções da empresa, Fernando Geraldes disse que «não gostava» da direcção comercial. (TVI)
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