A presença militar russa ao longo das fronteiras da NATO, sobretudo a aérea, não é novidade, mas a forma como estão a fazê-lo está a preocupar os generais da Aliança Atlântica. Para os russos, não passam de voos de rotina retomados em 2009, depois uma pausa de 17 anos, por iniciativa do Presidente e comandante supremo das Forças Armadas, Vladimir Putin.
"A partir de 1992, a Federação Russa decidiu unilateralmente suspender os voos estratégicos em áreas de combate remotas. Lamentavelmente, nem todos os países tomaram a mesma atitude, o que desencadeou alguns problemas à segurança da Rússia", afirmou na altura Putin, apelando à compreensão da comunidade internacional para o reatar destes voos.
Em setembro de 2013, andavam a fazê-los no Mar de Barents, a norte da Noruega, noticiavam as agências russas citando o porta-voz do ministro da Defesa, coronel Vladimir Drik. Durante um dos voos, que durou cerca de 17 horas, a tripulação treinou, entre outras coisas, o reabastecimento aéreo e os procedimentos a seguir quando são interceptados por caças da NATO. E não é que apareceram mesmo alguns F-16 e F-4F das forças aéreas da Dinamarca, Noruega e Reino Unido? Mas também uns MIG-31 russos, os únicos que tinham sido chamados para o exercício.
Nessa altura, informou o mesmo porta-voz, que os bombardeiros estratégicos Tupolev-95 e Tupolev-160 da Força Aérea Russa faziam cerca de 50 voos deste tipo por ano. Ambos operam a partir da Base Aérea de Engels, na região de Saratov, 800 quilómetros a sudeste de Moscovo.
Não é a primeira vez que estes voos agitam os meios diplomáticos. Em Agosto de 2013, os japoneses acusaram os russos de terem violado o seu espaço aéreo junto à Ilha de Okinoshima, litoral de Fukuoka (sudoeste), durante dois minutos, por dois Tupolev-95, idênticos àqueles que foram escoltados pelos F-16 portugueses. Nesse dia, quatro caças F-2 das forças aéreas de autodefesa (nome da aviação japonesa) foram ao encontro dos bombardeiros russos. Moscovo desmentiu a intromissão e coisa ficou por aí.
Segundo as forças armadas nipónicas, entre Julho e Setembro desse ano o alerta de invasão de espaço aéreo por parte dos russos disparou 105 vezes. A disputa territorial sobre as ilhas Curilas, no Pacífico, permitem perceber porquê.
Em novembro do ano passado, chegou a vez dos colombianos se queixarem de violação do espaço aéreo por dois Tupolev-160. Ao protesto do Presidente Juan Manuel Santos, respondeu o ministro da Defesa em Moscovo que a sua aeronave realizava uma missão de treino de combate, integrada num exercício conjunto com as Forças Armadas da Venezuela, e não violou qualquer norma internacional. Também dessa feita, a tripulação russa travou contacto com dois caças Kfir da Força Aérea colombiana. E lá seguiram viagem.
Durante este ano, a NATO registou um crescimento acelerado dos voos militares russos nos céus da Europa. Em abril surgem as primeiras notícias da intercepção, por caças da Royal Air Force de dois Tupolev-95. Em julho, um relatório da Comissão de Defesa do Parlamento britânico alertava para o risco, "baixo mas significativo", de um ataque da Força Aérea Russa e da impreparação das forças da Aliança Atlântica para responderem prontamente a este tipo de ameaça.
Na semana passada, o secretário-geral da NATO garantiu que a organização está forte e vigilante. "Essa força é a nossa resposta a estas incursões", que desde Janeiro "aumentaram três vezes" relativamente ao ano passado, disse o norueguês Jens Stoltenberg.
Com efeito, em 2014 já foram realizadas mais de 100 interceptações de aviões militares russos pela NATO, 19 dos quais entre 28 e 29 de Outubro.
Esta segunda-feira, o comandante supremo da NATO na Europa, o general norte-americano Philip Breedlove, disse que as recentes manobras de aviões militares russos em espaço aéreo europeu pretendem mostrar ao Ocidente que a Rússia é uma "grande potência", capaz de influenciar as resoluções da Aliança Atlântica.
Para os russos, são apenas "voos interessantes". "Conhecemos potenciais amigos. Os pilotos da NATO aproximam-se tanto de nós que até dá para ver a sua expressão. E levantamos a mão para cumprimentá-los", afirmou o piloto Yury Pelin à Ria-Novosti em Agosto de 2013.
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