Foram retomados os trabalhos da X Comissão Parlamentar de Inquérito à Tragédia de Camarate, que estavam parados há cerca de ano e meio. Os deputados ouviram os peritos que auditaram o Fundo de Defesa Militar do Ultramar, os quais admitiram não saber para onde foi a quase totalidade do dinheiro.
Em 1982, o Fundo de Defesa do Ultramar tinha 2,5 milhões de euros, aproximadamente 18 milhões de euros aos valores actuais. Mas em 1993 ficaram no fundo 145 mil euros, cerca de 246 mil euros aos valores de hoje.
Em 11 anos "desapareceram" 17 milhões e 755 mil euros. Fernando Lobo do Vale, que chefiou a equipa de peritos da Inspecção-geral de Finanças, reconheceu perante os deputados que não há documentação.
Onde está o dinheiro? Onde foi aplicado? A equipa de peritos assegura que há apenas indicações sobre gastos efectuados, nomeadamente em obras, mas apenas num curto período de quatro anos, entre 1982 e 1986.
Fernando Lobo do Vale lembrou que na época muitas empresas não tinham contas-corrente, devido à "desorganização que o país vivia", fruto do 25 de Abril de 1974.
Questionado sobre os negócios do material de Defesa, reconheceu apenas que existia alguma "opacidade".
Tragédia foi "acidente"?
Durante a manhã foram ouvidos dois antigos inspectores da Polícia Judiciária que investigaram a queda do avião, em que viajavam entre outros, o então primeiro-ministro Francisco de Sá Carneiro e o ministro da Defesa Amaro da costa.
Joaquim Gonçalves alegou que um problema de saúde lhe tinha afectado a memória e que se lembra de "muito pouco" do que aconteceu há mais de 30 anos, recordando apenas que o caso de Camarate foi entregue a um seu colega - Pedro Amaral - que, na altura, era estagiário.
Já Paulo Condenso Franco, outro antigo inspector da Polícia Judiciária, afirmou que em sua opinião a tragédia de Camarate se tratou de um "acidente".
Presidida pelo deputado social-democrata José Matos Rosa, a comissão de inquérito ao caso Camarate visa averiguar as "causas e circunstâncias em que, no dia 4 de Dezembro de 1980, ocorreu a morte do primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, e dos seus acompanhantes". (RR)
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