Se fosse uma mera entrega comercial provavelmente seria anulada ou devolvida. Mas como é uma operação militar há-de ser aceite. Mesmo assim, não se entende como é que uma missão que foi encomendada a Portugal com o carimbo de “urgente”, aprovada por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU e que teve “luz verde” do Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN) há praticamente cinco meses só agora se efectua. Mas cada coisa a seu tempo. Entre Conselho e Conselho, o da ONU e o da Defesa de cá, também decorreu algum tempo. O primeiro decidiu, a 24 de Setembro de 2014, que era “urgente” o apoio e participação dos países-membros nas operações contra o terrorismo do auto denominado estado Islâmico (EI), e a 16 de Dezembro o CSDN português deu o seu aval ao envio de instrutores militares portugueses para formação e treino das forças militares iraquianas. Entretanto, o ano findou e passaram-se quase cinco meses. No terreno, continuou a carnificina do costume. A guerra não era “nossa”, já se sabia, mas terá Portugal uma noção vaga da palavra “urgente”? Terá sido por se tratar do Iraque? E se fosse um golpe de Estado ou qualquer outra emergência num país da CPLP? Teria sido idêntica a “pressa” no envio? Terão sido mesmo necessários cinco meses para formar instrutores de militares, sobretudo quando se trata de comandos de elite?
O que se passa, se quisermos generalizar, é que em Portugal tudo leva o seu tempo. Ainda ontem António Costa viu como “natural” a presença e apoio de socialistas (não por acaso ex-Presidentes e ex-ministros) a Sampaio da Nóvoa, mas continua a achar que uma posição do PS sobre as Presidenciais há-de levar o seu tempo. Quando se pretende agilizar uma qualquer operação burocrática simples, todo o sistema se retorce e encolhe, adiando o que podia e devia ser rápido. Porque tudo tem que levar o seu tempo. Assim, Portugal, quando enfim chegar o seu tempo, ainda corre o risco de passar da validade. (DIRECÇÃO EDITORIAL Público)
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