O Pentágono vai estacionar armamento pesado em vários países do Leste europeu, numa decisão encarada por Moscovo como uma provocação.
A intenção dos EUA já era conhecida, mas o anúncio oficial foi feito pelo secretário da Defesa, Ashton Carter, durante uma visita a Tallin (Estónia) esta terça-feira. "As forças de rotação americanas precisam de participar mais rápida e facilmente nos treinos e exercícios na Europa", justificou.
O equipamento – cujo destacamento não terá natureza permanente, segundo o Pentágono – é composto por 250 tanques, carros de combate Bradley e peças de artilharia blindadas, que podem mobilizar até cinco mil soldados.
Os EUA receberam luz verde dos três países bálticos – Estónia, Lituânia e Letónia – e da Bulgária, Polónia e Roménia, que irão servir de palco para as manobras militares. Para além dos membros da NATO no Leste da Europa, também a Alemanha irá receber armamento, apesar de já contar com presença militar norte-americana no seu território.
O envio de armamento militar dos EUA para o Leste europeu serve como resposta aos receios manifestados por alguns governos da região, na sequência da anexação da Crimeia pela Rússia, que também acusam de apoiar militarmente as forças rebeldes que combatem na Ucrânia.
Esse receio é sobretudo alimentado pelos três países bálticos, que contam com significativas minorias étnicas que se identificam como russas. Moscovo defendeu a anexação da península da Crimeia, em Março do ano passado, com a protecção da população russa e é a expansão dessa lógica aos bálticos que as três capitais temem – apesar de o Kremlin ter afastado essa pretensão.
A mensagem de Carter veio precisamente ao encontro desses receios. "Perderam a vossa independência uma vez. Com a NATO, nunca voltarão a perdê-la", disse o chefe do Pentágono, utilizando palavras do Presidente Barack Obama. "Os EUA e o resto da aliança da NATO estão absolutamente comprometidos em defender a integridade territorial da Estónia, Letónia e Lituânia", acrescentou.
A decisão foi muito mal recebida em Moscovo, que a encara como mais uma prova da expansão da Aliança Atlântica até às suas fronteiras. O Ministério dos Negócios Estrangeiros tinha divulgado um comunicado na véspera em que manifestava a esperança de que "a situação na Europa seja impedida de resvalar para um novo enfrentamento militar carregado de consequências perigosas".
O general Iuri Iakubov foi ainda mais severo ao descrever, citado pela agência Interfax, o envio de artilharia norte-americana para o Leste europeu como "o passo mais agressivo da NATO e do Pentágono desde o final da Guerra Fria". O responsável garantiu que "a Rússia não terá outra escolha a não ser aumentar o seu potencial militar ao longo das suas fronteiras ocidentais".
Recentemente, um dirigente da NATO disse que a Rússia está a enviar homens e armamento para o enclave de Kaliningrado – o que, dada a proximidade em relação à Polónia e à Lituânia levantou de imediato novos receios. No mesmo sentido, foi anunciado na semana passada o reforço do arsenal nuclear russo, com a aquisição de 40 novos mísseis de longo alcance.
As relações entre a NATO e a Rússia atravessam a pior fase desde o colapso da União Soviética e parecem ter entrado numa lógica de parada e resposta. Para além do papel atribuído a Moscovo na desestabilização da Ucrânia – que motivou sanções económicas pelos membros da aliança –, os exercícios militares russos na Europa têm aumentado de frequência. Um relatório no final de 2014 dava conta de pelo menos 40 incidentes protagonizados pela Força Aérea russa durante manobras no espaço aéreo.
O aumento da tensão deverá tornar ainda mais difícil um entendimento diplomático para a guerra civil ucraniana. Uma reunião entre os chefes da diplomacia russa, alemã, francesa e ucraniana está marcada para esta noite em Berlim, mas as esperanças de progresso são pequenas. O acordo de Minsk – assinado em Fevereiro – está ainda longe da implementação total e persistem alguns focos de confronto no Leste do país. (Público)
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