25 de setembro de 2015

Agência de Defesa Europeia escolheu 30 projectos inovadores. Dois são portugueses

O SeaNet e ALIR são ainda desconhecidos da maioria dos portugueses, mas já despertaram o interesse dos peritos da Agência Europeia de Defesa (EDA), que os seleccionaram para uma lista de 30 projectos inovadores que estão bem colocados para serem abrangidos pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (Portugal 2020, no nosso País). O relatório da EDA estima que cada um destes dois projectos que contam com a participação do Ministério da Defesa Nacional poderá vir a beneficiar de um financiamento máximo de 900 mil euros. O que têm de especial estes dois projectos? Duas frases chegam para a resposta: O ALIR pretende desenvolver compósitos alternativos para as placas usadas nos coletes anti-bala; o SeaNet propõe-se a desenvolver um sistema que permita gerir conjuntos de robôs subaquáticos para missões civis e militares.

SeaNet e ALIR foram escolhidos entre 13 projectos de empresas ou instituições portuguesas que se submeteram à avaliação da EDA, com o propósito de apurar o potencial para receber um futuro (e ainda hipotético) apoio do Portugal 2020. «A selecção da EDA funciona como um aval, que confirma que esta ideia tem futuro e pode ter interesse», explica Luís Madureira, um dos líderes da OceanScan, empresa portuense que tem vindo a desenvolver o projecto SeaNet em parceria com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e o Centro de Investigação Naval da Marinha Portuguesa (CINAV).

Luís Correia, investigador do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) e um dos responsáveis pelo projecto ALIR, confirma que a selecção da EDA, apesar de não garantir qualquer financiamento, pode ajudar a valorizar os cartões de visita das empresas seleccionadas: «A escolha do projecto ALIR abre perspectivas no que toca à participação em projectos da EDA, e de outros organismos europeus».

O ALIR junta investigadores do Centro de Investigação da Academia Militar (CINAMIL), o Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO), e das empresas Rebelco e X.Aerosystems. Caso seja bem sucedido, o consórcio pode abrir caminho a uma nova geração de placas balísticas usadas nos coletes à prova de bala. Para alcançar esse objetivo, os investigadores propõem-se a substituir alguns dos compósitos de matriz termoendurecível que são usados para produzir as placas balísticas da actualidade por compósitos de matriz de termoplástico. «Além de aumentar o desempenho balístico, estes compósitos permitem criar painéis de adequados à forma do corpo humano», garante Luís Correia.

O relatório da EDA revela ainda que o projecto ALIR não se fica pela produção de uma nova geração de coletes à prova de bala. Também no sector aeronáutico e na protecção de infraestruturas esta solução poderá ter aplicações.

O projecto SeaNet, também não se esgota nos propósitos militares. Pescas, detecção de poluição ou sistemas de comunicações são algumas das missões que poderão tirar partido das acções levadas a cabo por um conjunto de submarinos robóticos. Os mentores do projecto admitem poder vir a desenvolver novas versões de submarinos, mas lembram que é o desenvolvimento de um sistema de «inteligência de grupo» que deverá concentrar grande parte dos esforços de investigação do projecto.

«Os projectos seleccionados no âmbito desta call, ou qualquer outro que seja aprovado no âmbito do programa Portugal 2020 e onde haja participação de entidades na estrutura do MDN, têm sempre e obrigatoriamente como requisito a sua aplicação dual (civil-militar). No âmbito das suas atribuições, as Forças Armadas têm contempladas missões de carácter não-militar, tais como missões de busca e salvamento, apoio em caso de catástrofes, missões de interesse público, missões no âmbito da protecção civil, ou até mesmo as missões de apoio à paz em países de interesse nacional ou no âmbito das alianças de que Portugal faz parte. Assim, existem impactos óbvios destes projectos na operacionalidade das Forças Armadas», explica um e-mail enviado pelos serviços institucionais do Ministério da Defesa Nacional (MDN) para a Exame Informática.

O MDN refere ainda que os projectos que mereceram uma menção positiva da EDA vão contar com apoio estratégico da Direcção-geral de Recursos da Defesa Nacional ou dos diferentes Ramos das Forças Armadas no que toca à identificação de necessidades, requisitos, recursos humanos e ensaios das diferentes soluções que vierem a ser desenvolvidas.

O SeaNet e o ALIR podem ser as mais recentes atracções no que toca à investigação na área da defesa que tem sido levada a cabo investigadores nacionais, mas não são os primeiros a merecer uma avaliação positiva da ESA. Em 2014, o projecto Turtle, que é liderado por investigadores do Inesc Tec, no Porto, integrou a lista de sete iniciativas distinguidas pela Agência Europeia. O projecto, que já garantiu fundos estruturais necessários, pretende desenvolver submarinos robóticos que podem operar a elevadas profundidades. (Exame)

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