10 de setembro de 2016

A FORÇA AÉREA E O COMBATE AOS FOGOS FLORESTAIS

"O meu nome é Jorge Pereira, simples cidadão civil, totalmente independente e profundamente interessado por Portugal.

Desde os meus tempos de adolescente que me questiono acerca do motivo da nossa Força Aérea Portuguesa (FAP) ter estado muitos anos e ter-se mantido depois arredada, até aos nossos dias, do combate directo aos incêndios florestais.

É sabido que a FAP chegou a operar o Lockheed C-130H Hercules com os dois sistemas de combate a incêndios. Houve tripulações que chegaram a executar 30 descargas num só dia conforme me foi dito por um antigo piloto. Apesar de ter sido uma grande ajuda, o sistema (MAFFS) instalado neste avião de carga para o efeito não era prático. Também os helicópteros Alouette III nos anos 1980 e 1990, fizeram missões de combate aos fogos florestais.

Há mais de 20 anos ponderei escrever uma carta ao Chefe de Estado Maior da Força Aérea, o que não veio a acontecer. Decidi, contudo, pedir a ajuda aos cidadãos nacionais para juntos colocar, com a brevidade possível, a nossa Força Aérea Portuguesa de novo a combater os incêndios.

Não é nada do outro mundo, pois as congéneres de Espanha, Grécia, Croácia e até mesmo de Marrocos estão envolvidas directamente na luta contra os incêndios há décadas também com os famosos Canadair/Bombardier CL-215, CL-215T e CL-415 que os governos portugueses desde 1974 nunca ousaram comprar.

Entre 1954 e 1962 já a FAP operava o Grumman SA-16A Albatross, um aparelho anfíbio muito semelhante aos Canadair CL-215/415, que desempenhava as funções entre outras de busca e salvamento (SAR) nas Lajes, Açores.

Neste contexto e como paradoxo é de referir também que a antiga Espanha Franquista com a sua Força Aérea começou a operar o Canadair CL-215 desde 1971. A título de curiosidade até a antiga República Socialista Federativa da Jugoslávia do Marechal Tito operou este meio aéreo anfíbio polivalente. Portanto algo de estranho se passou em Portugal depois do 25 de Abril de 1974, com o posterior negócio de meios aéreos privados que se veio a desenvolver.

Existe, portanto, desde há muitos anos um profundo desinvestimento na FAP. Chegou-se inclusive ao ridículo de se criar «uma pequena segunda força aérea» chamada Empresa de Meios Aéreos (EMA) com dinheiros públicos!

Por fim, provando que o sistema está completamente fora de controle e desvirtuado, todos os anos, no verão, vemos pilotos militares a combater os incêndios durante as suas férias, ao serviço de empresas privadas… que por sua vez são pagas pelo próprio Estado!

É interessante notar que é tudo legal, uma vez que possuem as competências e qualificações para tal missão, adquiridas nessas empresas. Por todas estas razões, ao fim de quase quatro anos de luta difícil, consegui reunir quase 32 mil assinaturas na Petição que exige o regresso da FAP ao combate contra os fogos florestais.

Quando estas linhas chegarem ao leitor, já o documento foi entregue na Assembleia da República (AR), em Lisboa, na passada terça-feira, 30 de Agosto. Deixei nas mãos de Jorge Lacão, um dos vice-presidentes da AR, as vozes de muitos portugueses e portuguesas que se querem fazer ouvir. Depois do que aconteceu este verão, tenho a certeza que somos muitos mais a apoiar esta causa".

Jorge Pereira (Barlavento)

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