3 de novembro de 2009

Militares não são esquecidos

A memória dos militares falecidos foi ontem lembrada na homenagem que ocorreu no Cemitério das Angústias em São Martinho. A deposição de uma coroa de flores no monumento do Talhão Militar antecedeu a celebração litúrgica que lembrou todos os que já nos deixaram.
Manuel Gonçalves era um dos antigos combatentes que ontem assistia à homenagem aos militares já falecidos. A cerimónia realizada pela Zona Militar da Madeira ocorreu no Cemitério das Angústias em São Martinho e contou com a presença de algumas dezenas de pessoas. Foi um acto simples, mas carregado de simbolismo, como se podia constatar pelas expressões dos que nele participavam.
Tal como acontece todos os anos, ontem foi o dia de as Forças Armadas homenagearem não apenas os que morreram em combate mas todos os militares, tal como explicou António Oliveira, chefe da Repartição de Operações e Informações.«Esta é uma cerimónia muito singular. Não se quer tirar qualquer parte política ou de força em relação a este tipo de cerimónia, apenas mostrar o nosso respeito», destacou o tenente-coronel António Oliveira, referindo que assinalar esta efeméride é a demonstração de que as Forças Armadas estão a «lembra-se daqueles que faleceram ou pela Pátria e por aquilo que acreditavam».

Regressar a Portugal para fazer tropa
Com a sua presença no Cemitério das Angústias, Manuel Gonçalves, de 62 anos, também prestou homenagem aos que já sucumbiram. Manuel Gonçalves é um dos muitos portugueses que trazem consigo as marcas do tempo da guerra colonial. Sofreu um acidente na Guiné, onde esteve durante 22 meses. Um vírus destruiu-lhe o sistema digestivo, o que o obriga a ser acompanhado permanentemente nos hospitais militares. Está satisfeito com o apoio que lhe tem sido dado. «Não tenho nada a dizer», sublinha o nosso interlocutor, que no ano 1966 fez o percurso inverso ao da maioria e viajou da França para Portugal, a fim de ingressar no Exército Português. «Entendi que tinha de fazer a tropa», justifica. Ingressou em 1968 no Exército Português e no ano seguinte foi enviado para a guerra na Guiné. Tinha 21 anos. Ficou em África 22 meses. Nunca mais voltou.Cumpriu o serviço militar mas admite que «não foi fácil». Gostaria de voltar, mas em ambiente de paz. Manuel Gonçalves recorda com entusiasmo o que viu e viu fazerem na Guiné. A construção de estradas, a colocação de água, habitação, apoio na saúde. Tudo feito pelos portugueses, que entretanto saíram do território, com a decisão da independência.«Hoje, aquela gente está toda abandonada», lamenta este ex-militar que pertenceu à Companhia 25/29, «a que mais armas apreendeu» naquele território, referencia, com orgulho.Curiosamente, o que mais o chocou aconteceu já depois da independência e com os próprios guinienses.Manuel Gonçalves refere-se «ao que foi feito aos tropas guinienses que faziam parte do Exército Português». Foram «desprezados pelo Exército Português» e depois «Nino Vieira mandou matá-los todos. Mandou fuzilar tudo». Anos mais tarde, «Portugal deu asilo político a esse bandido, mas ele teve aquilo que mereceu. Uma das mortes mais terríveis que alguém pode ter», declara, amargurado.O ex-combatente perdeu amigos na Guiné e ele próprio sofre de uma deficiência devido ao acidente que teve. «Tive um acidente num camião e na sequência disso perdi as defesas intestinais, devido a um vírus», esclarece, não tendo, ainda assim, razões de queixa do apoio que teve de passar a ter do Estado português. «Eles dão o apoio que a gente merece», garante, sabendo, no entanto, das dificuldades que passam os ex-combatentes que estão foram desta lista de apoios.(Jornal da Madeira)

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