Ao assinar o contrato de compra de 260 veículos blindados Pandur à Steyr-Daimler-Puch, em 2005, o governo exigiu que a General Dynamics (GD) transferisse para Portugal o know-how associado à produção do modelo. Para esse efeito foi criada uma fábrica em Portugal, a Fabrequipa. A mesma que, com a ruptura do contrato em cima da mesa do Ministério da Defesa, enfrenta um cenário de falência pelas mesmas mãos de quem pensou a sua existência. Há 250 postos de trabalho em risco.
"Quando o senhor secretário de Estado diz que a Fabrequipa tem de pedir responsabilidades à General Dynamics, esquece-se que foi o Estado que exigiu - nos contratos de fornecimento e contrapartidas - que a GD transferisse para uma empresa portuguesa o know-how tecnológico e os direitos associados à produção dos Pandur. Foi uma exigência do Estado português. Agora é ele mesmo a querer mandar tudo para o lixo?" explica ao i a advogada da Fabrequipa, Paula Lourenço, em resposta às declarações do secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello.
Ontem, e perante a notícia avançada pelo i de que o Estado português estaria a preparar-se para rasgar o contrato de fornecimento das Pandur arriscando uma guerra jurídica com um dos maiores fabricantes mundiais de armamento, o governante assumiu que a relação com a unidade austríaca de sistemas terrestres da GD tem sido marcada por "incumprimentos". No entanto, negou que o governo tenha alguma responsabilidade sobre o futuro da unidade do Barreiro. "O Estado português não tem nenhum contrato com a empresa portuguesa que está a fazer as viaturas Pandur. Esse contrato é entre o fornecedor austríaco, a Steyr, e uma empresa portuguesa."
A pouco menos de um mês - como o próprio Marcos Perestrello reconhece - de se ultrapassar o deadline imposto pelo Ministério da Defesa para que a construtora austríaca regularize a entrega dos Pandur, o governo tem todas as opções contratuais em aberto, incluindo a denúncia do acordo. "A relação contratual com a Steyr tem sido marcada por alguns incumprimentos por parte do fornecedor. O Estado português, na defesa dos interesses do país, usará todas as prerrogativas, quer contratuais, quer legais, para chegar a esse objectivo."
Fontes militares contactadas pelo i olham para a posição do governo como um esticar de corda que serve uma estratégia com um duplo objectivo: conquistar tempo, margem de manobra e flexibilidade orçamental num período em que os cofres nacionais não suportariam a acumulação simultânea de facturas de submarinos e blindados. Também nos círculos militares, ninguém acredita que as exigências feitas por Lisboa numa carta enviada à Steyr (ver texto ao lado) pelo director-geral de Armamento e Infra-estruturas, vice-almirante Viegas Filipe, possam ser cumpridas. Versão ontem confirmada à TSF por Francisco Pitta, proprietário da Fabrequipa, o parceiro nacional da Styer responsável pela construção de 220 Pandur em solo nacional. "As exigências feitas na carta pelo senhor vice-almirante Viegas Filipe são totalmente inexequíveis", acusou.
Ora, o prazo acaba no final de Agosto e, tendo em conta o histórico da Steyr, será que o governo ainda acredita na capacidade do fabricante austríaco e do parceiro nacional? "Isto não é uma questão de fé. A nossa expectativa é que o fornecedor cumpra as suas obrigações. Não o tem feito." Assim sendo, o governo deverá mesmo manter-se fiel ao ultimato e romper o contrato, mesmo que Perestrello diga que a questão "ainda" não se põe. "Caso haja resolução do contrato entre Portugal e a GD, isso significa, sem sombra de dúvida, a impossibilidade da Fabrequipa continuar a laborar", sustenta Paula Lourenço, acusando o governo de incoerência: "Há vários casos, como o dos submarinos, em que os prazos não foram cumpridos." A Fabrequipa defende-se dos ataques do governo, e Paula Lourenço argumenta que o governo terá de perceber duas coisas: "Primeiro, sempre houve entregas dos Pandur, ainda que os prazos não tenham sido cumpridos à risca. E se não foram feitas as entregas nos termos que os militares queriam, a responsabilidade é de quem tem de fiscalizar os fornecimentos - Missão de Acompanhamento e Fiscalização, militares da Fabrequipa e Comissão de Contrapartidas. A segunda coisa é que no caso dos Pandur existe pela primeira vez transferência de know-how e criação de emprego em Portugal. A Fabrequipa, beneficiária das contrapartidas, investiu tendo como garantia a própria exigência contratual do Estado." Se Lisboa optar pela dissolução do contrato, Paula Lourenço acredita que isso se deve "à incompetência do governo - através dos seus organismos - em fazer a fiscalização dos fornecimentos e da execução das contrapartidas".
Até agora o Exército português recebeu 120 Pandur de sete versões de um total previsto de 240 blindados de 12 versões, num negócio avaliado em 364 milhões de euros. Além dos atrasos nas entregas do fornecedor, têm-se somado problemas técnicos e sinal disso mesmo, é que dos 120 blindados recebidos, apenas sobre 20 deles foi accionada a cláusula de garantia.
As Pandur, substitutas das Chaimites, representam claramente um salto tecnológico para o Exército e deveriam equipar a Brigada de Intervenção que integrará o European Battle Group. (Iol)
Só uma questão:
ResponderEliminarQuem é a "Fabrequipa"?
É certo que é uma empresa privada.
Uma empresa privada comercial, que visa o lucro privado.
"O Estado português não tem nenhum contrato com a empresa portuguesa que está a fazer as viaturas Pandur. Esse contrato é entre o fornecedor austríaco, a Steyr, e uma empresa portuguesa."
- É absolutamente certo.
- Mas também é certo que esta empresa nasceu a pensar neste concreto contrato com Steyr... e que lhe foi oferecido de bandeja pelo Estado Português. Ora leia-se o que abundantemente foi escrito nos jornais da época acerca do controverso assunto.
Assim é pertinente perguntar:
Quem é a "Fabrequipa"?
Por último, a responsabilidade pelo incumprimento ou defeituoso cumprimento contratual é da Steyr ou da "Fabrequipa" que faz a "montagem das peças" dos Pandur?
Bem já posso responder à minha própria questão, aliás, a informação é pública, por isso aqui fica:
ResponderEliminarIF/NIPC 503375144
Entidade FABREQUIPA, SOCIEDADE INDUSTRIAL DE EQUIPAMENTO RODOVIÁRIO LDA
Data Publicação 2007-01-03
Publica-se que em relação à entidade:
Nº de Matrícula/NIPC: 503375144
Firma: FABREQUIPA, SOCIEDADE INDUSTRIAL DE EQUIPAMENTO RODOVIÁRIO LDA
Natureza Jurídica: SOCIEDADE POR QUOTAS
Sede: SETE PORTAIS - TELHA - SANTO ANDRÉ
Distrito: Setúbal Concelho: Barreiro Freguesia: Santo André
2830 SANTO ANDRÉ
Matriculada na: Conservatória do Registo Comercial do Barreiro
pela Apresentação AP. 4/20061228, referente à inscrição 13,
foi efectuado o seguinte acto de registo:
Insc. 13 - AP. 4/20061228 - ALTERAÇÕES AO CONTRATO DE SOCIEDADE E AUMENTO DO CAPITAL
Artigo(s) alterado(s): Artºs.2º e 3º
OBJECTO: Indústria e comércio de bens e tecnologias militares, fabrico, montagem e reparação de reboques e semi-reboques para todo o tipo de cargas e transporte, estruturas metálicas de média e grade tonelagem, cisternas, contentores, caixas fixas e basculantes para todo o tipo de camiões e semi-reboques, assistência técnica e transformação de material de carga e transporte, sua comercialização bem como de peças e acessórios e ainda o que conexa ou instrumentalmente se torne necessário ou aconcelhável à prossecução dos respectivos objectivos sociais afins à indústria e comercialização de armamento e equipamentos rodoviários.
Montante do aumento : 1248000.00 Euros
Modalidade e forma de subscrição: Realizado em dinheiro e subscrito pelo sócio Francisco José Nunes Vieira Pita no montante de 1 123 000 para reforço da sua quota e pela entrada de nova sócia Maria João Duarte Abreu Vieira Pita no montante de 125 000
Capital após o aumento : 2748000.00 Euros
SÓCIOS E QUOTAS:
QUOTA : 2.623.000,00 Euros
TITULAR: Francisco José Nunes Vieira Pita
NIF: 158468651
QUOTA : 125.000,00 Euros
TITULAR: Maria João Duarte Abreu Vieira Pita
NIF: 153427892
Estado civil : Casado(a)
Nome do cônjuge: Francisco José Nunes Vieira Pita
Regime de bens : Separação de bens
Residência: Alameda da Beloura, nº. 4-1.3, Quinta da Beloura
2710 - 693 Sintra
O(s) documento(s) que serviu(ram) de base ao presente registo encontra(m)-se depositado(s) na Conservatória do Registo Comercial do Barreiro
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Apesar disso fico na mesma...