30 de novembro de 2010

Entrevista ao almirante Melo Gomes - "Estaleiros de Viana têm que se reformar"

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo acusaram a Marinha de ser responsável pelos problemas e arrastamento do projecto dos patrulhões. A Marinha nunca respondeu. Esse é um silêncio de quem consente?

Isso não tem qualquer verosimilhança. Digo sempre a mesma coisa.... eu, até admito que tenha culpa, eu!
Primeiro: temos que ter uma capacidade de construção militar no País. É absolutamente essencial, mesmo básica, porque aquelas funções mínimas que temos (de salvaguardar os nossos recursos), temos que ser capazes de fazer pelo menos [navios] patrulhas e isso só pode ser feito em Viana do Castelo, neste momento.
Segundo: um navio que saia de Viana do Castelo, para ter mercado (como estes parece que começam a ter) tem que ser um navio que tem que ter qualidade. E portanto tenho exigido quase tanto a Viana do Castelo como exigo em relação aos submarinos. E portanto, o que não está cumprido no contrato, as especificações, não aceito e foram essas as ordens que dei à minha gente. Julgo que, ao fim e ao cabo, estes anos todos, que para mim têm sido de prejuízo muito significativo porque tenho que manter navios que têm 40 anos e, além disso, gastei recursos que me fazem falta e muitas centenas de milhares de euros para comprar equipamentos que estavam em obsolescência logística e já não tinha sobressalentes, não se podia funcionar para as corvetas. Ninguém mais interessado em ter navios novos do que eu. Mas temos que ter navios que tenham qualidade e aqueles navios, que parecem simples, não o são. São navios que têm a dimensão de uma fragata antiga (como a João Belo, por exemplo) e têm 35 homens de guarnição, portanto têm um grande grau de automação. Mas julgo que, ainda antes de me ir embora, vou ter o primeiro navio em testes de mar.

Os atrasos têm sido recorrentes...

Está bem. Mas há cinco anos que estou à espera e a única maneira de fazer as coisas é fazê-las bem. Não podemos fazer as coisas mal e os estaleiros também têm que se reformar. Os estaleiros, num país como o nosso, têm que ter duas coisas essenciais, engenharia e gestão, porque a mão-de-obra, que é muito qualificada e os operários de Viana do Castelo são bons operários, sabem fazer as coisas. Mas a mão-de-obra, hoje, há a preços 10 vezes inferiores na Coreia, na China, na Tailândia. Portanto, essa evolução tem que ser feita.

Só com uma parceria internacional?

Um estaleiro internacional dá credibilidade à gestão de um estaleiro como aquele, que pouco evoluiu nos últimos 40 anos. Eu fui dos privilegiados que foi buscar a última construção militar que os Estaleiros de Viana do Castelo tinham feito e que foi a fragata Magalhães Correia. Há 45 anos que a fui buscar a Viana do Castelo e os métodos eram praticamente iguais aos que existem hoje! (DN)

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