2 de janeiro de 2011

"Sentimos que fazemos parte do processo que vai salvar alguém"

Têm um grau de prontidão de uma hora e sabem que, no que toca a salvar vidas humanas, todos os minutos contam. No aeroporto de Figo Maduro, Lisboa, preparam o Falcon 50 da Força Aérea, rectificam todos os mecanismos e olham atentos para os mapas de voo e da meteorologia.

Às 17 horas do passado dia 24 de Dezembro, Telmo Oliveira, 31 anos, e Bruno Torcato, 33, estão sentados no "cokpit", e são eles que vão assegurar o transporte das cinco pessoas que compõem a equipa de colheita de órgãos. As viagens que podem ser até ao Funchal (Madeira), como até Faro (Algarve), Porto, ou uma cidade europeia, são sempre "únicas e diferentes".

Pilotos de transporte aéreo especial, admitem ser "normal" ter como tripulantes uma equipa de colheita de órgãos. "Ultimamente, tem acontecido com mais frequência... uma ou duas vezes por mês". Telmo, o comandante do voo, revela que por cada viagem que faz sente que está "a fazer parte de um processo que vai salvar alguém", e assegura que este tipo de voos "é bem diferente" daqueles cuja missão é resgatar pessoas, ou transportar alguns dos políticos portugueses.

"Sentimos que fazemos a diferença", assegura Bruno, o co-piloto deste viagem, revelando que em dois anos consecutivos trabalhou no domingo de Páscoa: um ano para resgatar uma pessoa ferido nos Açores e outro para transporte de órgãos. "Fazemos voos quando e para onde for necessário", assegura o capitão, enquanto olha para os inúmeros botões e números que vão surgindo no cokpit do Falcon.

Telmo interrompe a conversa para ouvir a saudação de outros pilotos que, entretanto, abandonaram a rota e se despedem desejando as Boas Festas. Sem uma sombra de tristeza, retribui os desejos e diz que é a primeira vez que realiza um "voo deste género" na noite de consoada. "Há que admitir que se está melhor em casa".

Bruno desvia o olhar dos botões e garante que "quem realmente sente mais isto, são as famílias que ficam em casa".

Acompanhados do 1º cabo Nuno Gonçalves, 26 anos, - assistente de cabina, mas também resolve qualquer problema mecânico -, estes militares aguardam perto do Falcon que a equipa de colheita termine a sua função no hospital. Nesta noite de Natal, apenas eles tiveram a sua ceia, na zona da tripulação de um aeroporto.

Minutos depois da meia-noite, estão de regresso a Figo Maduro com a sensação de "dever cumprido".

"A viagem correu bem". Os órgãos colhidos vão poder ser transplantados. (JN)

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