13 de fevereiro de 2012

Marinha vai encerrar o centro de ensino à distância que forma militares dos três ramos

Devido às "restrições orçamentais" impostas para 2012, a Marinha fez escolhas e decidiu encerrar, já em Junho, o seu Centro Naval de Ensino à Distância (CNED), o único no país que proporciona a frequência e conclusão do ensino secundário nesta modalidade. Actualmente, tem 608 alunos inscritos.

O centro, criado em 1997, destina-se a militares dos três ramos das Forças Armadas que não possuam o 12.º ano, actualmente a habilitação mínima para a progressão na carreira. Mais de metade dos militares não têm o ensino secundário completo. Dos alunos inscritos este ano lectivo no CNED, 202 são da Marinha, 204 do Exército e 202 da Força Aérea, indicou o porta-voz do Ministério da Defesa Nacional (MDN), Nuno Maia.

Desde a sua criação, o centro formou 3772 militares, tendo sido investidos na sua actividade cerca de 30 milhões de euros, acrescentou. O porta-voz frisou que a decisão de encerramento pertence à Marinha, mas indicou que o ministério, através da Direcção-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar, já apresentou um conjunto de sugestões com vista à continuidade desta oferta.

As soluções apontadas pelo ministério passam pela apresentação, por parte da Marinha, de uma proposta de reafectação orçamental com vista a fazer face às necessidades do CNED ou pela partilha de custos pelos três ramos das Forças Armadas, o que seria feito através da integração do centro num "modelo único", onde coexistiria com as outras duas estruturas militares que também têm oferta de ensino à distância, embora não para a conclusão do secundário. Para o ministério, esta última solução permitiria uma "maior sustentabilidade". A Marinha ainda não respondeu.

Técnicos dispensados

Estas propostas foram enviadas depois de o MDN, na sequência de questões colocadas pelo PÚBLICO, ter sido informado pela Marinha de que, "face às restrições orçamentais e à necessidade de recursos humanos", esta "não dispunha de condições financeiras para suportar o funcionamento do CNED, pelo que o mesmo deverá ser encerrado".

Esta informação não substitui uma comunicação oficial sobre a decisão de encerrar o centro, que ainda não foi apresentada pela Marinha, o que leva a que o ministério considere que o seu encerramento "ainda não é uma certeza". Mas, no terreno, a situação está já a ser apresentada como um facto consumado.

Em Janeiro foram dispensados os últimos professores e técnicos que estavam a recibo verde no CNED, alguns deles há mais de dez anos. Também os 21 docentes requisitados ao Ministério da Educação para trabalhar no centro, e que tiveram aí formação específica na área de ensino à distância, estão a preparar-se para regressar às suas escolas de origem em Setembro próximo.

A oferta de formação no centro é a do ensino secundário recorrente por módulos capitalizáveis, um sistema que permite uma maior flexibilidade e uma progressão mais rápida nos estudos. Agora, os alunos estão a ser informados de que devem acabar, até Junho, o máximo número de módulos possíveis. Também lhes estão a ser indicadas quais as escolas públicas que ainda têm ensino nocturno.

Para o êxito do CNED tem sido determinante a existência de um sistema de tutorias e, sobretudo, o facto de proporcionar formação através da modalidade de ensino à distância, permitindo assim que os militares embarcados ou em missões no exterior possam prosseguir estudos. Vários militares destacados em contingentes no Kosovo e no Afeganistão ou embarcados na Sagres realizaram exames enquanto estavam nestas missões.

Exames na Sagres

Durante a volta ao mundo realizada pela Sagres em 2010, o comandante do navio-escola contou, num artigo da revista da Marinha, que alguns militares realizaram exames a bordo com vista à conclusão do ensino secundário, aproveitando para tal os dias sem vento e, portanto, de acalmia forçada. "Estes marinheiros, dotados de uma saudável ambição, querem progredir um pouco mais na sua carreira profissional, razão pela qual se inscreveram no CNED", explicou, frisando que "o seu esforço é digno e deve ser louvado". "Por esta razão, sempre que alguém é bem-sucedido cria-se um exemplo a seguir." (Público)

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