13 de abril de 2013

Jogos de guerra ao largo de Lisboa (INSTREX)


Dez navios, dois submarinos, três aviões. Mergulhadores e tropa especial, entre 1300 militares. São estes os meios enviados por Portugal para levar a bom porto uma operação de imposição de paz, sob a égide das Nações Unidas, em Tugaland. Uma região fictícia onde um regime ditatorial, a Lustónia, não reconhece a independência de um jovem Estado, a Nicelénia.

É neste cenário virtual que até terça-feira, dia 16, decorre o INSTREX, decorre um exercício militar bem real, organizado pela Marinha em parceria com a Força Aérea. Objetivo: estabilizar a Nicelénia.

Duas fragatas da força naval portuguesa, a "Vasco da Gama" e a "Bartolomeu Dias", zarparam manhã cedo do principal porto deste país imaginado pelos militares, Lisboa. À saída do porto, o primeiro susto.

Alguns homens a bordo de um semirrígido tentam uma abordagem à "Vasco da Gama". Na fragata suspeita-se de um ataque terrorista de forças da Lustónia. Neste caso, manda o protocolo militar começar por fazer um aviso verbal, disparar alguns tiros de aviso, se não derem meia volta e, em último caso, abater a embarcação, anulando a ameaça. Foi o que aconteceu, virtualmente claro.

São exercícios como este que permitem treinar os militares, mantendo e melhorando as suas capacidades operacionais, há de explicar mais à frente o comandante da "Vasco da Gama", o capitão de fragata Ricardo Freitas Braz.

Pouco depois de sair a barra, mais um exercício. Tratava-se agora de efetuar uma trasfega de combustível, em mar aberto, para as duas fragatas em simultâneo. O navio reabastecedor "Bérrio" já estava à espera. É uma operação sempre delicada porque obriga os três navios a permanecerem lado a lado, a escassos 30 metros, durante o tempo necessário para atestar os gigantescos depósitos de 500 mil litros. No limite, poderão permanecer nesta situação, vulneráveis a um ataque de forças inimigas, durante duas horas.

"Quando está a operar, o nível do combustível nos depósitos não deve descer abaixo dos 70% o que obriga a reabastecer de dois em dois dias", explicar ao Expresso o porta-voz da Marinha, comandante Santos Fernandes.

Durante a operação de reabastecimento caiu o 'Óscar' ao mar, um boneco de 80 quilos que gerações de marinheiros já tiveram de retirar das águas quando treinam a operação de salvamento. Santos Fernandes garante, em jeito de brincadeira, que é um dos elementos mais antigos da tripulação, sempre voluntário.

Descola o helicóptero que segue a bordo da "Vasco da Gama", o Lynx, e lá voltam, uma vez mais, a retirar o 'Óscar' das águas frias e agitadas.

Momentos depois, surge discretamente no horizonte um submarino inimigo, o "Tridente". De periscópio içado, observa as fragatas durante algum tempo, para logo a seguir submergir até aos 50 metros e voltar, de imediato, à superfície. A ideia, neste caso, é treinar a subida de emergência.

Exposto ao sol da manhã, é detetado por um avião P3 Orion da Força Aérea, que minutos depois vem ao seu encontro com o objetivo de identificá-lo. Em situação de conflito, a aeronave poderia lançar de paraquedas uma sonoboia equipada com um microfone que permitisse localizá-lo, explica o porta-voz da Marinha.


Quando a situação parecia voltar à normalidade, soa um alerta: míssil em aproximação. Trata-se de um Seersucker de fabrico chinês, disparado a partir de uma bateria costeira. Na mira tem a "Vasco da Gama". Como destruí-lo?

Há várias formas, explica o comandante Santos Fernandes. Criando um alvo fictício, pelo lançamento de um projétil que cria uma nuvem de palhetas metálicas e que o faz explodir ao atravessá-las, emitindo um sinal de radar que cria um alvo puramente virtual como, por exemplo, um navio de grandes dimensões (guerra eletrónica) ou destruindo-o em voo com um míssil antiaéreo.

À velocidade a que o Seersucker se aproxima da "Vasco da Gama", o comandante, a partir do centro de operações, cérebro do navio, uma sala obscurecida repleta de ecrãs, tem de tomar uma decisão em escassos minutos. Definindo como prioridade defender o navio, decide atacar o míssil. Míssil destruído a uma milha do navio.

"Sempre que saímos para o mar aproveitamos ao máximo. Quase não temos tempos mortos", disse aos jornalistas o comandante Ricardo Freitas Braz.

"Por muito que se treine em terra, se não viermos para o mar, não poderemos atingir os padrões de prontidão necessários", acrescentou.

Noutros tempos, a Marinha realizava dois a três exercícios de treino militar por ano, num dos quais até participavam forças aliadas. Mas este ano, será feito apenas este, informou o porta-voz da Armada. (Expresso)

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