15 de fevereiro de 2016

Irão e Rússia avisam Arábia Saudita

Recados, avisos, ameaças. Estes têm sido os ingredientes das declarações trocadas nos últimos dias por altos responsáveis internacionais sobre o conflito sírio. Ontem, o regime iraniano advertiu os sauditas para uma eventual retaliação caso as suas tropas entrem por terra em território da Síria. E a Rússia alertou para o risco de uma guerra total e longa naquele país.

"Não permitiremos que a situação na Síria evolua de acordo com a vontade de "países rebeldes". Tomaremos decisões no momento certo", disse à televisão Al-Alam o adjunto do chefe do estado maior das Forças Armadas do Irão Massoud Jazayeri.

No mesmo dia um alto responsável militar da Arábia Saudita, o brigadeiro-general Ahmed Assiri, em declarações à televisão Al-Jazeera, confirmou o posicionamento de aviões sauditas na base aérea militar turca de Incirlik. "Os aviões da força aérea saudita estão presentes com as suas tripulações para intensificar as operações aéreas [contra o Estado Islâmico]", disse o militar, que foi o primeiro responsável a falar numa eventual ofensiva terrestre dos sauditas na Síria.

"A Arábia Saudita está agora a enviar aviões para a base de Incirlik. "É uma intenção, não há um plano. A Arábia Saudita está a enviar aviões e a dizer "Posso mandar soldados por terra caso seja necessário". Turquia e Arábia Saudita podem juntar-se numa operação terrestre", disse na véspera o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, em entrevista ao jornal 'Yeni Safak' à margem da Conferência sobre Segurança de Munique.

No âmbito deste mesmo evento, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, admitiu, em declarações à televisão CNN, a possibilidade de derrubar pela força o presidente sírio Bashar al-Assad caso este se recuse a sair através da negociação política. "Acredito que Bashar al-Assad está acabado. Irá sair - não tenho dúvidas sobre isso. Ou sai através de um processo político ou será removido pela força", declarou o chefe da diplomacia do regime de Riade.

Arábia Saudita avisa Assad: "Ou sai pelo processo político ou pela força"

Frequentemente acusada de estar na origem do Estado Islâmico, a participar já nos bombardeamentos aéreos contra os terroristas, a Arábia Saudita assume agora a iniciativa de se disponibilizar para lançar uma ofensiva por terra. Ressalvando, porém, que tal só aconteceria com o aval e participação da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos. Ontem, o mesmo ministro saudita afirmou em conferência de imprensa que nem a Rússia poderá valer a Assad. "[Ele] tem procurado o apoio da Rússia mas Moscovo não vai conseguir salvá-lo", alertou Adel al-Jubeir, citado pelas agências internacionais.

Os EUA insistem na necessidade de os russos pararem os bombardeamentos aéreos contra grupos que combatem o regime de Assad (que além da Rússia é apoiado pelo Irão e o Hezbollah). Numa conversa telefónica que ontem teve com o presidente russo, o presidente norte-americano "enfatizou a importância de a Rússia ter um papel construtivo e aliviar os ataques aéreos contra as forças da oposição moderadas na Síria", referiu um comunicado da Casa Branca.

Do lado de Moscovo, segundo um comunicado do Kremlin, Vladimir Putin e Barack Obama acordaram uma maior cooperação para implementar o acordo de cessar-fogo para a Síria, que foi acordado na sexta-feira. "Em particular, foi manifestado apoio aos esforços em dois campos principais: o do cessar-fogo e o da ajuda humanitária", indicou o comunicado, realçando que os dois líderes acordaram a necessidade de estreitar os contactos entre os ministérios da Defesa da Rússia e dos EUA para "combater com êxito o Estado Islâmico e outras organizações terroristas".

Cessar fogo é vitória para Assad. Poucos acreditam na paz

Recorde-se que, na véspera, na conferência de Munique, o primeiro-ministro russo tinha garantido ser falso que o seu país esteja a bombardear civis na Síria. Dmitri Medvedev foi mais longe e declarou: "Para ser sincero, parece que estamos a mover-nos rapidamente para um período de nova Guerra Fria." Ontem, à Euronews TV, o governante russo avisou que qualquer ofensiva terrestre na Síria levará a uma guerra total e longa. "Ninguém está interessado numa nova guerra e uma operação terrestre conduzirá a uma guerra total e longa", disse, numa altura em que o conflito sírio (que vai entrar no seu quinto ano) já fez pelo menos 470 mil mortos.

Uma fonte militar da Síria citada pela agência Reuters afirmou que o exército sírio tenciona avançar sobre as posições controladas pelo Estado Islâmico em Raqqa. Um avanço sobre esta cidade tornaria mais difícil de justificar uma acção terrestre da Arábia Saudita. Entretanto, prossegue a ofensiva das tropas de Assad para tentar recuperar Aleppo, a maior cidade da Síria. Ontem surgiram ainda apelos por parte da França e dos EUA para que acabem os bombardeamentos aéreos das forças da Turquia, que aproveitaram já para atacar posições curdas em território sírio. Mas Ancara reafirmou que continuará a bombardear posições curdas. (DN)

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