(Sábado)Por estranho que pareça, quando se entra dentro do porta-aviões dos EUA USS Truman cheira a frutos secos. Surge numa parede: "A day in deck is a good day in the Navy" - ou um dia no convés é um bom dia na Marinha. Porém, as centenas de tripulantes que hoje aguardavam que as ondas no Tejo acalmassem para poder apanhar um barco até Lisboa não estavam a viver um bom momento. Pertencem à tripulação de mais de cinco mil pessoas do USS Truman. Encontram-se em missão há sete meses; e o mau tempo que os acompanha desde a costa da Islândia fê-los esperar horas até poderem pisar terra.
Desde as 9 horas que o USS Truman estava em Lisboa. A SÁBADO deixou a doca de Pedrouços às 10h42. O zelo da Polícia Marítima e a chuva fizeram com que se mantivesse na lancha durante uma hora no meio do rio, aos solavancos – um teste demasiado duro para o estômago de um dos passageiros.
Seis lances de escadas separam a entrada no USS Truman, que entrou ao serviço em 1998, do hangar onde se estacionam as aeronaves. Este navio de guerra norte-americano consegue transportar mais de 70: mas o que se destaca são os caças F18. "São os canivetes suíços da aviação", explica-nos o coronel Ken Froberg, responsável do departamento aéreo, por estes se adaptarem a qualquer situação. Outro pormenor que se destaca são os call signs (alcunhas) inscritos na chapa, que pertencem aos pilotos, aos operadores e até aos encarregados da manutenção. "É uma óptima forma de manter o trabalho de equipa. As pessoas ficam orgulhosas por lá terem o nome." Então, quem será Huggy Bear (urso dos abraços), o Sadness (tristeza), a The Body (o corpo) ou o Dudeboat (barco do gajo)?
Não os descobrimos, mas encontrámos Brewski na ponte de comando, ou melhor, o comandante Kent Smith – que muito se orgulha do seu call name. No meio de uma sala repleta de tecnologia de ponta, explica-nos para que serve um simples sino dourado. "É para darmos avisos, como quando o Almirante sai do navio para começar a festa", brinca. Na ponte, trabalham oito pessoas. No USS Truman, tudo é gerido através de turnos, cada um com quatro horas. "Se fossem mais longos, os tripulantes ficariam exaustos com todas as tarefas que têm a bordo", garante. E como se passa o tempo livre em alto mar? Nos ginásios espalhados por todo o navio, com os filmes transmitidos através de um canal ou com os computadores que permitem contactar a família a quilómetros de distância. "Cada pessoa também tem a sua cama. E para arrumar as coisas só tem um espaço por baixo do colchão, mas resulta." Não há dinheiro no USS Truman: até as compras no supermercado a bordo são todas feitas com cartão.
O porta-aviões da Marinha norte-americana ficará ancorado no rio Tejo quatro dias, e no domingo, dia 11, acolherá uma festa para assinalar o armistício da I Guerra Mundial. O seu comandante, Nicholas Dienna, destaca que é a primeira vez que o USS Truman, assim chamado para homenagear o 33.º presidente dos EUA, está em Lisboa. O Tejo está difícil, mas Dienna destaca as capacidades do seu navio: "O porta-aviões tem a responsabilidade de operar em qualquer sítio e em qualquer altura. Todos os dias são um desafio e uma oportunidade." Em Maio, o Truman passou pela Síria, envolvido numa operação de combate aos avanços do grupo terrorista Estado Islâmico.
A despedida tardou porque o Tejo partiu uma das cordas que a Marinha portuguesa usara, para tentar aproximar um ferry do USS Truman. A SÁBADO teve que se ir embora de novo numa pequena lancha, contrastante com o navio de guerra com cerca de 20 andares de altura. No USS Truman, ficaram os tripulantes, ainda à espera numa longa fila com a bagagem, para descobrirem Lisboa. Terá o rio deixado?
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