3 de agosto de 2012

Dia do Fuzileiro 2012

Pela 4ª vez consecutiva e sempre na sua casa mãe – Escola de Fuzileiros – realizou-se no sábado, 07 de Julho de 2012, o Dia do Fuzileiro.

“… Em parceria e estreito relacionamento com a Associação de Fuzileiros, tem-se conseguido, aos poucos, cimentar este evento, como o grande encontro anual dos fuzileiros.

Um encontro onde o mote principal será sempre o convívio, o reencontro de camaradas de armas, de companheiros, amigos, a oportunidade de se ir mantendo o contacto para além das redes sociais que as novas tecnologias permitem. Um contacto presencial onde a palavra pode ser complementada com o abraço.
Poderá não haver capacidade para grandes desfiles militares, demonstrações de capacidades, eventos culturais de vulto, mas sobrará sempre o espaço para acolher quem pura e simplesmente queira estar.

Poderemos ter pouco para dar, mas não faltará calor humano”… Extrato do discurso do Comandante do Corpo de Fuzileiros contra-almirante Picciochi.

Pela 4ª vez e 4º ano consecutivo, passou esta Unidade da sua atividade normal diária para a azáfama da preparação de um grande evento, com praticamente todos os serviços da Escola envolvidos.

Depois de uma noite igual a tantas outras, depois da alvorada feita pelo clarim ao som do altifalante da Unidade, depois dos primeiros raios de Sol nesta Escola, eis que acordamos num dia diferente: o Dia do Fuzileiro.

Pela aurora, esquecendo agora os horários ou fitas de tempo, em épocas idas tão rigorosamente cumpridos, já muitos pela noite dentro tinham deixado as suas casas, se preparavam à Porta de Armas para um regresso à Casa Mãe – todos – e para um regresso ao nosso ex-libris – Pista de Lodo – alguns.

A azáfama passou agora para o controlo de acessos e para o protocolo, com a casa da guarda como pano de fundo a “espreitar” a chegada de autocarros e viaturas próprias, destacando-se o grupo de motards FZ, oriundos de Norte a Sul do país, ou ainda doutras “terras”, onde agora se encontram a angariar o seu pé-de-meia. Sós ou acompanhados Eles chegaram, tal como chegaram em 2009, em 2010 e em 2011!

A palavra crise, que nos últimos tempos tanto se tem ouvido, apenas beliscou este nosso dia – com a compreensão de todos – na ausência do habitual desfile de forças apeadas e motorizadas, dando também o Comando do Corpo de Fuzileiros e a Associação de Fuzileiros o exemplo, no esforço que se pede a todos os portugueses.

“… Não precisamos de verbas para homenagear os nossos mortos, e se um dia não houver uma coroa, arrancaremos uma flor do mato e aqui nos recolheremos em silêncio.
Quando não conseguirmos arranjar uma placa toponímica, gravaremos a cinzel e tinta o nome na parede.

Não temos, como gostaríamos, a capacidade de oferecer o almoço. Mas tal não tem sido impeditivo de aqui trazer fuzileiros.

Em suma, ninguém nos detém, assim haja vontade…” referiu o Comandante do Corpo de Fuzileiros

O programa iniciou-se com uma missa presidida pelo Capelão do Corpo de Fuzileiros Licínio Silva, coadjuvado pelo diácono permanente Ferreira de Campos, ex-Comandante da Escola de Fuzileiros, a que se seguiu a cerimónia militar junto do Monumento do Fuzileiro que regista de forma perene os nossos mortos em combate e sublinha, pela voz de Camões: mais razão há que queira eterna glória quem faz obras tão dignas de memória.

Esta cerimónia foi vivida com emotividade desde o seu início.

A começar pela sentida e significativa cerimónia de imposição de uma condecoração, a título póstumo, do saudoso camarada sargento-mor Fuzileiro Raposo que, ainda no ativo, recente e precocemente nos deixou. Recebeu a condecoração a viúva – Senhora D. Isalina Raposo. Seguiram-se os discursos do Presidente da Associação de Fuzileiros e do Comandante Corpo de Fuzileiros e conclui-se com outro momento de grande e elevado significado para todos os Fuzileiros - a Homenagem aos seus mortos com a deposição de uma coroa de flores, no Monumento do Fuzileiro. Ouviram-se os toques de Silêncio, de Homenagem aos Mortos em Defesa da Pátria e da Alvorada executados pela Fanfarra da Armada, uma evocação religiosa pelo Capelão Licínio e o Grito do Fuzileiro, proferido por todos, sob a liderança do guarda-marinha Fuzileiro Silva e Maia.

Como não existe Marinha sem água, mais uma vez ficou provado que não existem períodos de seca para o marujo! Tinha este ano já acontecido nas comemorações do Dia da Marinha, repetindo-se desta vez nesta manhã, na cerimónia junto do Monumento ao Fuzileiro. Serviu ainda para provar que a idade não perdoa, vendo-se alguns veteranos a “abrigar” da chuva, como muitos desses antigos combatentes abrigaram do inimigo, esquecendo-se do lema, que ainda persiste: “chuva civil, não molha militar”, pois é, no ativo, reserva, ou na reforma, acrescento eu!
No seu discurso o Presidente da Associação de Fuzileiros, CMG FZ Lhano Preto, sublinhou:

“… Porque os tempos são muito mais de ação, do que de discursos e porque são, também, muito mais de união do que de pequenos contenciosos desprovidos de razão e de qualquer sentido que só têm por objetivo afagar alguns egos;
Porque o espírito do Fuzileiro é muito mais de partilha e de humildade na firmeza, do que da construção de pequenas ilhas que nos enfraquecem e que sempre se esgotam na sabedoria do tempo; […]

Do que se vem fazendo falam as ações concretas simbolizadas pelo Monumento ao Fuzileiro, inaugurado por S. Ex.ª o Presidente da Republica, na importante centralidade do Barreiro que a Autarquia decidiu integrar na toponímia da cidade com a designação de Praça dos Fuzileiros;

Do nosso associativismo, num País relativamente individualista onde 5% de participação ativa é considerada acima da média, […] o crescimento e o crescente prestígio da Associação Nacional de Fuzileiros - longe de constituírem um fim, são meios necessários, indispensáveis mesmo, mas ainda não suficientes, visando sociabilizar a instituição no plano da entreajuda e do apoio aos que mais precisem.
Do que, para os Fuzileiros significam mais de três séculos, de história – desde o famoso Terço da Armada da Coroa criado em 1621 […] falará a História.

A História dos Fuzileiros e, quiçá mesmo, a da sua Associação Nacional vem-se fazendo todos os dias por cada um de nós, mas também por quem deferentemente nos visita.”
Daqui se partiu para junto da antiga Carreira de Tiro da Escola de Fuzileiros, para mais um momento solene com mais uma inauguração. Depois das inaugurações de várias placas toponímicas, em ruas, praças, Pista de Lodo e Parada eternizando espaços de homenagem, coube desta vez fazê-lo perpetuando a “Avenida Vice-almirante Bustorff Guerra (1924-1996)”, antigo e distinto comandante da Escola de Fuzileiro, perante a família convidada e todos os que desejaram estar presentes.

Seguiu-se ali bem perto – no eterno ginásio, antiga oficina de torpedos e minas – o lançamento do livro “O Quarto da Alva”, do Comandante Patrício Leitão. Mais uma obra, mais uma memória que fica como património dos fuzileiros, onde se relatam feitos de fuzileiros em África, com algumas vivências e histórias pessoais e se acentuam atitudes e comportamentos, em momentos de guerra e também de paz.

Em simultâneo com o lançamento do livro, esteve exposto também no Ginásio da Escola de Fuzileiros, um diorama constituído por uma base e kit de modelismo na escala 1/35, de uma viatura anfíbia LVT-4, que transitará a título permanente, como oferta para a Sala-Museu do Fuzileiro, enriquecendo o seu espólio. Foi este kit elaborada pelo Engenheiro. Álvaro de Melo, antigo Oficial Subalterno FZ da Reserva Marítima de 1968.
Ainda no mesmo local foi possível observar uma exposição de fotografias, da autoria do SAJ FZ RES Carlos Ribeiro e oferecida ao Centro de Estudos e Documentação do Corpo de Fuzileiros.

Passou-se finalmente para o almoço, pela primeira vez sem convites, também aqui na ótica e no princípio de utilizador-pagador, tão em voga, pois a crise é para todos. Este almoço culminou com o bolo comemorativo, prolongando-se o convívio entre os presentes, pela tarde fora.

Associado ao nosso Dia do Fuzileiro, a Sala Museu do Fuzileiro permaneceu aberta durante o dia, com um saldo francamente positivo na afluência, tanto de fuzileiros, como dos seus familiares e/ou amigos.
Não, não me esqueci do primeiro evento, do mais aguardado e principal evento do dia, ... para alguns. O seu pequeno-almoço, na Pista de Lodo eram 08h30m quando o primeiro destemido entrou! Considerado ainda no discurso do Comandante do Corpo de Fuzileiros “… demos oportunidade aos mais afoitos de recuperarem aquele tratamento de pele proporcionado pela Pista de Lodo,…” Gratuito, complemento eu.

Os comentários foram diversos e constantes durante o dia, mas as piadas de amigos, piadas para amigos e piadas sobre amigos, não se faziam rogadas. Algumas que presenciei e apreciei:
- “Enfim, de novo cá dentro!”, diziam orgulhosamente, de novo com o fato de exercício envergado. “Fiz os obstáculos todos!”, dizia o camarada Monteiro, da Guarda. “A mim é que me não deram tempo para isso!”, retorquia outro defendendo-se da provocação. “Para o ano cá estarei, desconhecia que havia a Pista!” Alegava um, entristecido, perante o desconhecimento desta inovação de 2012.

O Dia do Fuzileiro, iniciado em 2009, foi, neste ano, dedicado aos veteranos. “Sempre prestámos atenção aos nossos veteranos, aos que fazem parte do nosso património histórico… Os fuzileiros de hoje querem que os mais velhos, os mesmos veteranos, tenham orgulho deles”. Talvez que perante isto é mesmo curioso analisar que a maioria dos presentes neste dia foram mesmo os veteranos e todos aqueles que há muitos anos uns, há menos tempo outros, na porta de armas da Escola de Fuzileiros entraram um dia, para ganharem a boina azul ferrete, orgulho de todos eles.

É também curioso verificar que a percentagem de presentes é tanto maior quanto maior é a distância no tempo que os separa da sua passagem pela casa-mãe. É curioso verificar que a percentagem de presenças dos fuzileiros no ativo, excetuando os elementos cujo dever os obriga a estarem presentes, é diminuta. Talvez que no comentário que um dos “fuzileiros para sempre” fazia ao Comandante da Escola de Fuzileiros, CMG FZ Teixeira Moreira, na presença do seu Adjunto, SMOR FZ José Pereira esteja a explicação:
“Fui emigrante e quando estamos fora do país vemos e sentimos as coisas de forma diferente: A Bandeira, o Hino Nacional, o vinho, … um conterrâneo, … Aqui é igual, quem cá está ainda, não lhe dá o devido valor.” Hão-de dar! Volto a acrescentar!
Ficou provado, no final do dia, que a mesma crise, atrás comentada, não impediu que o evento fosse digna e honrosamente comemorado, com uma manhã repleta de acontecimentos, e uma tarde “…em conversa, debaixo do arvoredo que acalma os raios solares…” com todos os eventos presididos pelo Comandante do Corpo de Fuzileiros, contra-almirante Picciochi, acompanhado pelo Presidente da Associação de Fuzileiros, capitão-de-mar-e-guerra fuzileiro especial Lhano Preto e do Comandante da Escola de Fuzileiros, capitão-de-mar-e-guerra fuzileiro Teixeira Moreira e das restantes e distintas visitas, que prestigiaram o nosso Dia.

“Os fuzileiros devem ser dados como um exemplo a seguir, mantendo o espírito de corpo, espalhando uma cultura de profissionalismo e de capacidade de bem-fazer” Foi assim que o Comandante Supremo das Forças Armadas, na cerimónia de inauguração do Monumento ao Fuzileiro na cidade do Barreiro no passado ano, se nos dirigiu. Foi assim que o nosso comandante, subscrevendo na íntegra, cada palavra, concluiu o seu discurso de 07 de julho último – Dia do Fuzileiro 2012. (CF)

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