A Dinamarca irá cortar 268 milhões de euros na Defesa, enquanto Londres já está em conversações com os EUA para saber até onde poderá poupar nos gastos militares.
Cerca de 268 milhões de euros. Este é o corte que a Dinamarca terá de fazer no seu programa militar para conseguir equilibrar as contas públicas e fazer face à crise, anunciou ontem o ministro da Defesa, Gitte Lillelund Bech. Em Londres, o novo primeiro ministro conservador, David Cameron, já se pôs ao telefone com os aliados norte-americanos, para pedir conselhos ao governo de Washington sobre até onde pode reduzir os gastos na Defesa, como parte do seu plano de austeridade.
Alemanha, França, Itália, Grécia e Portugal são outros países europeus que já anunciaram cortes orçamentais que incluem os gastos militares. O cenário de contenção preocupa o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, que advertiu os 28 países aliados para os perigos de uma redução demasiado acentuada das verbas disponíveis nos cofres da Aliança Atlântica para lançar novas operações militares e manter as existentes, como o Afeganistão.
No Reino Unido, apesar de Cameron ter prometido não cortar na Defesa até à aprovação do Strategic Defence and Security Review (que poderá ser feita no Outono), este ano já foram cancelados vários exercícios militares para poupar dinheiro, revelou o The Times. "O governo britânico já consultou Washington para decidir até onde deverá reduzir o orçamento militar. Ainda não se sabe quando, mas os cortes são inevitáveis", disse ao Diário Económico Clara O'Donnell, analista do Center for European Reform, sublinhando que o objectivo de 2% do PIB para gastos militares (cumprido apenas por cinco países) traçado pela NATO é "totalmente irrealista".
Na Alemanha, o ministro da Defesa, Karl-Theodor Guttenberg também já admitiu que o seu orçamento será um alvo prioritário dos cortes já anunciados por Angela Merkel, sem efeitos na presença alemã no Afeganistão.
"Os governos devem ter consciência do impacto a longo prazo que têm grandes cortes nos orçamentos da Defesa, porque sabemos por experiência própria que o crescimento económico depende de um ambiente internacional de segurança", disse Rasmussen em entrevista ao The Times, no dia em que começou em Riga, na Letónia, a Sessão da Primavera da Assembleia Parlamentar da NATO. Para Novembro, em Lisboa, está marcada a cimeira da NATO na qual será revelado o novo conceito estratégico e o plano de reforma da Aliança Atlântica.
Portugal também irá cortar na Defesa. O Plano de Estabilidade e Crescimento determina uma redução de 40% nas verbas da Lei de Programação Militar até 2013 e proibição de novos contratos para aquisição de material militar. Decisões que, na opinião do general Loureiro dos Santos, vão atrasar ainda mais a modernização das Forças Armadas portuguesas. A braços com uma crise de proporções gigantescas, a Grécia planeia cortar 25% dos custos de operação das suas Forças Armadas, sendo que o orçamento para a Defesa será reduzido para menos de 3% do PIB.
"É muito difícil para os governos europeus argumentarem que terão de fazer cortes profundos nos programas sociais, na educação e nas pensões, mas não na defesa. Por isso, os orçamentos militares serão afectados pela crise económica", reforçou Rasmussen. Sobre o sistema de defesa anti-míssil na Europa, Rasmussen garante que o projecto terá um custo de cerca de 200 milhões de euros ao longo de dez anos: "Dividido por 28 aliados, é quase nada". Paulo Gorjão, director do Ipris, diz que a situação financeira da NATO continuará na agenda, com Rasmussen a manter a pressão sobre os aliados para abrirem os cordões à bolsa.
Conceito Estratégico
- Esperado para Novembro, na cimeira de Lisboa, o novo conceito estratégico da NATO deverá reforçar e actualizar o Artigo V, alargando os cenários que justificam a sua invocação e admitindo respostas não militares. A defesa dos países membros continuará a ser a prioridade.
- Outro objectivo da NATO é conseguir que todos os 28 países aliados renovem o seu apoio à operação militar no Afeganistão.
- Face à Rússia, a Aliança Atlântica deverá tentar contar com o apoio de Moscovo para pôr em prática o sistema de defesa antí-míssil na Europa.(D.E)
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