Portugal passa a ter submarinos convencionais de topo, que representam um enorme salto tecnológico para a Armada e uma pesada factura de mil milhões de euros para aquele que é um dos primeiros países do mundo a usar a chamada 'arma dos pobres'. A compra da 5.ª esquadrilha de submarinos com bandeira portuguesa arrastou-se mais de uma década e ficou marcada por suspeitas de corrupção e pelo incumprimento do programa de contrapartidas no mesmo valor
A Marinha portuguesa entra hoje, formalmente, numa nova dimensão em termos de capacidades navais, com a realização da cerimónia oficial de chegada do submarino Tridente e a inauguração das novas infra-estruturas da Esquadrilha de Submarinos.
O evento, que se realiza na base naval de Lisboa - um mês após a entrada do Tridente no rio Tejo - sob a presidência do ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, culmina um polémico processo que se arrastou durante anos e inaugura a 5ª esquadrilha de submarinos da Armada.
O projecto - marcado por suspeitas de corrupção, incumprimento das contrapartidas e dificuldades financeiras que levaram à compra de apenas dois dos três submarinos previstos - garantiu a continuidade de uma tradição iniciada em 1913 (ver caixa), quando Portugal se tornou num dos primeiros países do mundo a usar a arma submarina.
Portugal tem uma das maiores zonas económicas exclusivas do mundo - esse espaço sob jurisdição portuguesa é 18 vezes superior à da área terrestre -, que aumentará significativamente se for aceite o projecto de alargamento da plataforma continental. Acresce que, pela sua localização (e potenciais recursos energéticos e minerais), essa é uma região de grande importância geo-estratégica, plano em que não existem os chamados "vazios de poder".
Excepto a Dinamarca, incapaz de custear uma frota naval de superfície e outra submarina desde meados dos anos 2000, todos os países costeiros europeus (ver caixa) têm submarinos - e quase todos já aprovaram os planos da sua substituição por modelos mais avançados (convencionais ou nucleares), apesar dos constrangimentos financeiros.
Em Portugal, o debate fez-se aos níveis militar e político. No primeiro plano, a oposição ao programa foi feita pelo Exército: embora reconhecendo a sua necessidade, questionava o momento da sua compra face aos custos (ultrapassa os 1000 milhões de euros, com a aquisição em sistema de leasing operacional) num período de crise financeira e de sucessivas restrições orçamentais na área da Defesa - o que iria implicar cortes em programas de reequipamento dos outros ramos.
No plano político, a discussão foi balizada por questões ideológicas: PCP e BE (partidos anti-NATO) de um lado; PS, PSD e CDS-PP (que formam o chamado arco da governação) do outro. Recorde-se que foi a coligação de centro-direita, com Durão Barroso como primeiro-ministro e Paulo Portas como ministro da Defesa, quem escolheu o modelo alemão como vencedor do concurso.
O capitão-tenente Salgueiro Frutuoso é o primeiro comandante do submarino Tridente, cargo que ocupa desde o passado dia 17 de Junho.
Paulo Jorge Salgueiro Frutuoso, 40 anos, natural de Ílhavo, terminou a Escola Naval em 1992.
Um ano depois, iniciou a primeira especialização como submarinista (em Armas Submarinas).
Em 1996 integra a primeira guarnição de um submarino, o Barracuda. Em 2000 transita para o Albacora e, em 2002, assume as funções de imediato do terceiro, o Delfim.(DN)
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