Com apenas um ano de idade, Guilherme Almor de Alpoim Calvão deixa para trás a sua Chaves natal e parte com os pais para Moçambique. Ganha em África o gosto pelo mar. Descendente de uma família de militares, Alpoim toma para si o chamamento da farda e nunca quis outra coisa que não fosse a Marinha. "Aprendi a nadar aos quatro ou cinco anos nas praias de Lourenço Marques e interessava-me por navios. Lembro-me ver os avisos de primeira classe a passar. Quando passei para o sexto ano, escolhi a alínea F do curso, que era a que dava acesso à carreira militar", conta na entrevista à Domingo.
Quando a Guerra Colonial rebenta em Angola, em 1961, Alpoim está colocado nos submarinos. Percebe que nunca seria mobilizado para a guerra, como tanto desejava, se continuasse nos submersíveis. Pede então para ser transferido para os fuzileiros. Em menos de um ano, está a comandar um destacamento na Guiné – onde se notabiliza pela destreza em combate.
Ao longo da Guerra Colonial, Alpoim Calvão recebe as mais altas condecorações por feitos em combate: tem uma insígnia da Torre e Espada e duas Cruzes de Guerra. Na segunda comissão na Guiné, já sob as ordens do comandante-chefe António de Spínola, assume o comando das operações especiais. Protagoniza acções espectaculares, como a operação ‘Mar Verde’, em que toma de assalto a capital da Guiné-Conacri para libertar 24 prisioneiros portugueses.
De regresso a Portugal, Calvão chega a comandante da Polícia Marítima. Em 1974, é convidado para se juntar ao Movimento dos Capitães, que fariam o 25 de Abril. Recusa entrar no golpe porque os militares "não tinham definido o futuro do Ultramar". É o início da luta contra a esquerda. Combate o PCP à bomba: acredita que "Portugal corria então o risco de se tornar um país comunista" – e assume-se como o cérebro operacional do MDLP. Exilado após o golpe falhado de 11 de Março de 1975, inicia uma carreira empresarial no Brasil e na Guiné-Bissau. Hoje, aos 75 anos, com três filhos e sete netos, diz-se "um homem em paz".
- Como surgiu a escolha da vida militar?
- Eu sou natural de Chaves e venho de uma família que tem muitos militares no seu seio. Aconteceu naturalmente. Tinha um ano quando parti com os meus pais para Lourenço Marques, em Moçambique, e desde cedo fiquei com a ideia de que haveria de escolher a vida militar. Acabei por ir para a Marinha porque tinha um grande interesse pelo mar. Aprendi a nadar aos quatro ou cinco anos, nas praias de Lourenço Marques lembro-me ver os avisos de primeira classe a passar. Quando passei para o sexto ano escolhi a alínea F do curso, que era a que dava acesso à carreira militar. Vim para Metrópole em 1953 para concorrer à escola do Exército. Na altura os cursos preparatórios de acesso às armas era comum aos três ramos. Entrei num curso engraçado, porque estavam lá o Jaime Neves, o Ramalho Eanes, o Melo Antunes. Havia uma grande diversidade. Foi interessante, porque quando mais tarde nos encontrámos em África como capitães e primeiros-tenentes e os assuntos eram resolvidos entre nós com grande facilidade.
VOLUNTÁRIO PARA A GUINÉ
- Quando a guerra começa em Angola, em 1961, onde é que estava colocado?
- Estava na Direcção do Serviço de Submarinos, com os mergulhadores da Armada. A primeira especialização que tive foi a de mergulhador sapador, aquilo a que chamávamos os mergulhadores de combate. Fui fazer um curso de especialização em Inglaterra, em Portsmouth. Era um curso duro e prolongado. Quando voltei a Lisboa, fiquei encarregado do grupo de mergulhadores da Armada e fiz a especialização em submarinos. Na altura tínhamos três submarinos, era material do tempo da II Guerra Mundial. Quando aparecem os fuzileiros eu já tinha duas especializações. (C.M)
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