Um discurso com alvos bem definidos: os “comentadores de fato cinzento e gravata azul” que acham as Forças Armadas desnecessárias e os militares que conspiram e discutem política nos salões dos hotéis. Esta a tónica do ministro da Defesa, Aguiar-Branco, na alocução que proferiu neste domingo nas, Caldas da Rainha, durante as comemorações do Dia do Exército que este ano se realizaram naquela cidade.
O governante assumiu e explicou a não aquisição das viaturas Pandur e dos helicópteros NH90 com as restrições orçamentais que são conhecidas dos portugueses e enumerou as parcelas de ganhos obtidos na despesa com as Forças Armadas, concluindo que “ao todo já tomamos medidas para libertar o erário público em mais de mil milhões de euros”. Um contributo importante, disse, para “resgatar a liberdade das gerações vindouras”.
Aguiar-Branco disse que algumas pessoas poderão pensar que estas reduções não são uma boa notícia por se poder estar a cortar em equipamento necessário ou a diminuir a capacidade operacional dos militares, “mas a esses eu respondo que a minha prioridade são os meus soldados”, aos quais tem vindo a resolver os problemas relacionados com as promoções e a progressão na carreira. Ou seja, para o ministro, num cenário de recursos escassos, estes vão prioritariamente para os homens e mulheres das Forças Armadas, em detrimento do equipamento.
Depois de piscar o olho aos militares, e na sequência da intervenção do general chefe do Estado Maior do Exército, Pina Monteiro, que referiu, polidamente, a necessidade desses equipamentos, o governante arranjou um inimigo comum: os “comentadores de fato cinzento e gravata azul que enchem as páginas dos jornais e as horas de noticiário televisivo” a perguntarem para que servem as Forças Armadas.
“Esse discurso de um Portugal desarmado é profundamente perigoso”, disse, acrescentando que pode ser ainda pior do que qualquer outra ameaça externa.
Referindo-se por três vezes aos referidos comentadores - numa alusão implícita ao ex-ministro das Finanças, Silva Lopes, e ao líder da JSD, Duarte Marques, entre outros – o ministro passou ao ataque dos militares que estão nos salões dos hotéis a discutir política, elogiando aqueles que dentro dos quartéis cumprem o seu dever e servem os portugueses.
Antes o general Pina Monteiro mostrara compreensão pelas restrições impostas pelo poder político, na esperança de ganhar “a batalha contra o tempo de soberania limitada que vivemos e que afecta a liberdade de acção nacional”, mas sem deixar de salientar que o Exército vive hoje com 5000 homens e mulheres a menos do que o necessário para guarnecer a sua estrutura orgânica.
E não deixou de referir a prioridade que deve ser dada à compra das viaturas Pandur e aos helicópteros, sublinhando que o “Exército não exige recursos que o país não possa comportar”.
Pina Monteiro anunciou ainda a criação da Escola Prática das Armas, que irá substituir as sete escolas práticas do Exército, numa medida, afinal, idêntica à dos mega-agrupamentos de escolas do Ministério da Educação. Por analogia, também os hospitais do Exército, da Marinha e da Força Aérea serão reunidos num único Hospital das Forças Armadas.
As comemorações do Dia do Exército decorreram nas Caldas da Rainha desde sexta-feira, com um programa de conferências, exposições e demonstrações militares que incluiu paraquedistas a saltarem sobre a cidade.
O ponto alto foi neste domingo com um desfile militar e uma cerimónia presidida pelo ministro da Defesa, o qual foi alvo de alguns apupos e assobios dispersos. Já Ramalho Eanes, que antecedeu a sua chegada, recebeu alguns aplausos da população. Entre o público apenas um cartaz de protesto onde se podia ler “Qual soberania?” (Público)
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