29 de maio de 2010

Quartel-general da NATO em Oeiras, corre sérios riscos de desaparecer

O quartel-general da NATO em Oeiras, que esteve para desaparecer no início da década, "muito dificilmente" conseguirá manter-se na nova estrutura de comandos da Aliança Atlântica, admitiram diferentes fontes ouvidas pelo DN.

O impacto - em prestígio, visibilidade, relevância e ganhos financeiros para o país de acolhimento - dessa decisão é suficiente para os diferentes Estados membros lutarem afincadamente por acolher ou manter um comando NATO no seu território. Portugal já passou por isso na segunda metade dos anos 1990 e no início desta década quando Oeiras chegou a desaparecer do mapa na fase inicial da reforma concluída em Praga (2002).

Os esforços político-diplomáticos - envolvendo o apoio incondicional ao aliado norte-americano na guerra do Iraque - e militares permitiram então o volte-face. Mas agora, com as enormes dificuldades financeiras da Aliança, "há um grande risco" de Oeiras acabar mesmo, admitiu o vice-almirante Reis Rodrigues ao DN. "É cada vez mais difícil, mas Portugal tem alguns argumentos a seu favor", acrescentou o ex-comandante do agora chamado Comando de Forças Conjuntas de Lisboa (JFCL, sigla em inglês) e vice-presidente da Comissão Portuguesa do Atlântico. Porém, a generalidade das outras fontes, ouvidas sob anonimato, é mais pessimista.

A pressão é tal que uma dezena de países - EUA, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Holanda, entre outros - escreveu ao secretário- -geral da Aliança "a dizer que queriam avançar já" com essa reestruturação na Cimeira de Lisboa, a 19 e 20 de Novembro deste ano.

Portugal discorda e por uma razão lógica: o debate só pode ser feito depois de conhecidas as orientações do conceito estratégico (a aprovar em Lisboa) e o subsequente nível de ambição. O Ministério da Defesa é taxativo: "Qualquer decisão sobre a revisão da actual estrutura de comandos só deverá ser tomada depois de aprovado o novo conceito estratégico."

Acresce que "o Comando de Oeiras é um dos menos pesados financeiramente para a Aliança e um dos mais flexíveis em termos operacionais, sendo também muito importante para a ligação da NATO com África", frisou o gabinete de Augusto Santos Silva ao DN, acrescentando: "O Comando de Oeiras enquadra-se plenamente na valorização da deployability [projecção das forças], tão importante na NATO actual."

Portugal colocou igualmente na mesa uma exigência, segundo duas das fontes: "Vamos rever tudo" - leia-se o comando estratégico nos EUA, dedicado à Transformação (ACT), sob comando do general francês Stephane Abrial.

A França também chefia o JFCL (com o general Philippe Stoltz) e" quer um comando [de nível regional, como o JFCL] no seu território", observou uma das fontes.

Há dias, uma responsável política da Aliança, Stefanie Babst, declarou em Lisboa que a "discussão [sobre os comandos] se realizará precisamente quando a cimeira estiver a decorrer". Mais, manter Oeiras implicará uma "luta muito dura" para Portugal, alertou.

Mas essa reestruturação só produz "benefícios financeiros a médio, longo prazo", lembrou uma fonte. Já "a redução de comités" políticos e militares - "ainda do tempo da Guerra Fria" - em Bruxelas "é que permite cortes já".

Outra fonte declarou: "A NATO vai reduzir de certeza absoluta. Mas ainda não se sabe como." A nível do pessoal, prevê-se passar dos actuais 13 500 efectivos para 7500.(DN)

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